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Martha Medeiros

AS VOLTAS DO MUNDO E DO AMOR
No livro Perto do Coração Selvagem, romance de estréia da escritora Clarice Lispector, a personagem Joana, em um determinado momento, sente se confusa por estar sofrendo por algo que, um dia, a tornou terrivelmente feliz.
Acontece muito.
A dor e o prazer alternarem se em volta do mesmo motivo.
Passam se anos, ou meses, ou horas, e aquilo que nos deu tamanha vontade de viver torna se a razão de tanta angústia e lágrima.
E o mais exaustivo é que este é um fenômeno incompreensível.
Sendo de impossível entendimento, nada pode se esclarecer aqui, a não ser dizer que, na maioria das vezes, é o amor que provoca tal contradição.
O tempo passa e o amor sofre mutações: de ansioso passa a ser calmo, de constante passa a ser inconstante, de onipotente passa a ser falível.
Nós, por outro lado, também mudamos.
De carentes a auto suficientes, de infantis a maduros, de ternos a ríspidos.
Somos igualmente poderosos e igualmente fracos.
E a metamorfose do ser humano, como a metamorfose do amor, gera pânico: que amor é esse que um dia me faz explodir de alegria e que no outro dia me implode Que ser é esse que sou, que um dia aceita as contingências de um sentimento mutante e que no outro dia o quer estático, igual como sempre foi
Há exemplos mais simples.
Ele te amou e isso te fez feliz.
Ele deixou de te amar e isso te tornou infeliz.
Felicidade e dor em alternados momentos e pelo mesmo motivo.
Ela era passiva e caseira, e isso deixou você apaixonado.
Ela manteve se passiva e caseira, e você passou a sonhá la agitada e independente, e de repente não a quis mais.
Ela não mudou, mas você mudou, e o amor acompanhou a mudança.
Não há como parar o tempo, cristalizar o que nos enche de êxtase.
Este êxtase um dia se tranformará em algo que nos perfurará feito lâmina.
Porque assim é: a terra gira em torno do sol e nós giramos em torno de nós mesmos, sem descanso.

VELHOS AMIGOS, NOVOS AMIGOS
Quem é seu melhor amigo(a) Deixe ver se adivinho: estuda na mesma escola ou cursinho, tem a mesma idade (talvez um ano a mais ou a menos), freqüenta o mesmo clube ou a mesma praia.
Se errei, foi por pouco.
Não é vidência: minha melhor amiga também foi minha colega tanto na escola quanto na faculdade e nascemos no mesmo ano.
São amizades extremamente salutares, pois podemos dividir com eles angústias e alegrias próprias do momento que se está vivendo.
Mas fique esperto.
Fechar a porta para pessoas diferentes de você é sinal de inteligência precária.
Durante a adolescência, é vital repartir nossas experiências com pessoas que pensem como nós e que tenham o mesmo pique: é importante sentir se incluído num grupo, de pertencer a uma turma.
Perde se, no entanto, o convívio com pessoas de outras idades e de outros "planetas", que muito poderiam lapidar a nossa visão de mundo.
Entre iguais, tudo é igual.
A vida ganha movimento é na diferença.
Se você é rato de biblioteca, iria se divertir ouvindo as histórias contadas por um alpinista experiente.
Se você tem muita grana, ficaria surpreso em saber como dá duro o cara que trabalha de
dia para poder estudar à noite e o quanto ele precisa economizar para tomar dois chopes no sábado.
Se você curte música, seria bacana conversar com quem curte teatro.
Se você é derrotista, seria uma boa bater um papo com quem já sofreu de verdade.
Você, que se acha uma velha aos 27 anos, iria se divertir muito com os relatos de uma cinquentona irada.
E você, beirando os 60, se surpreenderia com a maturidade de um garoto de 18.
Para os de meia idade, nada melhor do que ter amigos nos dois extremos: da garotada que lhe arrasta para dançar até aqueles que estão numa marcha mais lenta, que já viveram de tudo e de tudo podem falar.
A cabeça da gente comporta rafting e música lírica, videoclipes e dança flamenca, ficar com alguém por uma noite e ficar para sempre.
É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante.
No mínimo, nos fazem dar boas risadas.
Vale amizade com executivo e com office boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido.
Vale sempre que houver troca.
Vale inclusive pai e mãe.