Escola, família e comunidade: a tríade para o futuro
O escritor argentino Jorge Luis Borges costumava dizer que o maior acontecimento de sua vida foi a biblioteca de seu pai que o conduziu às veredas fascinantes da existência real e onírica.
Já o cantor, compositor e escritor brasileiro Chico Buarque filho do historiador Sérgio Buarque de Hollanda também teve sua história profundamente ligada ao gosto pela leitura, adquirido desde a infância.
O autor de clássicos como A Banda, Construção e Cálice afirma que, já na adolescência, era impossível não ceder aos encantos daquelas obras tão convidativas que lotavam as prateleiras de sua casa a ponto de impedir a abertura de algumas janelas.
Para arrematar, temos a declaração reveladora da escritora Hilda Hilst, quando se lembra da influência de seu pai o poeta, jornalista e fazendeiro Apolônio de Almeida Prado Hilst na sua vida e na sua carreira: "Meu pai foi a razão de eu ter me tornado escritora ( ).
E eu tentei fazer uma obra muito boa para que ele pudesse ter orgulho de mim." Como vimos nesse paradoxal pequeno/grande universo recolhido apenas da seara das letras e das músicas e que faz referência somente à influência paterna a participação, o incentivo e o exemplo da família na formação emocional e intelectual dos indivíduos é, muito mais do que um dever, uma ação fundamental.
Mesmo nos lares cujos pais, mães, tios e avós não têm uma formação educacional regular, nem condições financeiras para adquirir livros, é importante que haja, sobretudo, a transmissão do amor pelo saber, pelo conhecimento, pela educação e, é claro, pela escola.
O governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Estado da Educação, está atento a essa necessidade de intensificar a integração entre os alunos da rede estadual de ensino e as suas famílias, ampliando esse vínculo por intermédio da escola e da comunidade.
Cremos que as instituições públicas educacionais possam ser a porta de entrada para o novo tempo com o qual têm sonhado gerações sucessivas.
Um tempo em que a escola seja um centro de luz capaz de irradiar o gosto pelo aprendizado constante, pelo esporte e, por que não, pelo lazer, uma combinação infalível para a construção de uma nação realmente soberana, fruto de uma experiência educativa lúdica, afetuosa e responsável.
Uma nação capaz de exercer plenamente a sua cidadania.
Por isso, com planejamento, entusiasmo, criatividade e o auxílio precioso de numerosos profissionais, parceiros e voluntários desenvolvemos o Programa Escola da Família, que está colocando em prática uma iniciativa inédita: abrir as mais de seis mil escolas da rede nos fins de semana, para a convivência familiar e comunitária.
Neste sábado, domingo e em todos os fins de semana do ano, colocaremos à disposição dos seis milhões de alunos dos Ensino Fundamental e Médio, de suas famílias, amigos e vizinhos as praças esportivas, as áreas de lazer e os ambientes escolares em todos os municípios paulistas.
Todos terão acesso a uma programação variada que inclui atividades artísticas, culturais, esportivas e recreativas, além de oficinas profissionalizantes.
Atividades decididas em conjunto com os moradores do entorno da escola, respeitando os usos e os costumes locais.
Para tanto, temos parcerias importantes, como a da Unesco, a do Faça Parte Instituto Brasil Voluntário e também do Instituto Ayrton Senna, que é, desde o início, responsável pela capacitação dos educadores, universitários e voluntários envolvidos no programa.
Contamos, ainda, com a participação das Associações de Pais e Mestres (APMs).
Aos universitários que se inscreveram no programa, a Secretaria de Estado da Educação está oferecendo 25 mil bolsas de estudo.
Cada bolsa vale metade das mensalidades, até um teto máximo de R$ 267,00.
O valor restante será complementado pelas instituições de ensino onde estudam.
Assim, os selecionados, que necessariamente precisam ter cursado o Ensino Médio na escola pública, terão 100% das respectivas mensalidades cobertas.
Em troca, trabalharão nas escolas aos sábados e domingos como monitores.
O sonho do acesso à universidade e o sonho da escola cidadã ocorrendo de forma simultânea.
O Programa Escola da Família é um convite para que sejamos mais do que executores, co responsáveis pela construção desse novo modelo educacional.
Um modelo capaz de originar, com a ajuda e o incentivo das famílias e comunidades, novos autores extraordinários Não somente de livros e de canções deslumbrantes, mas, sobretudo, de novos amanhãs que sejam tão harmônicos quanto bem escritos.
Amanhãs que receberão a contribuição valiosa da esfera da ficção e da criação artística, mas, que serão, para a nossa alegria, muito mais reais e palpáveis.
Publicado no jornal Diário do Grande ABC