Sentir.
E ser.
Isso me basta.
Não me pergunte quem sou.
Não me dêem a difícil tarefa de me descrever, não sei se encontraria em meu vasto vocabulário palavras para definir o que sou.
Na realidade desconheço.
Eu não quero me entender, não pretendo me decifrar.
Perderia toda a graça de me ser.
O que me encanta em não saber quem sou é o mistério.
Me excita a quase descoberta da matéria que me constitui.
O prazer de desbravar cada pedaço de vida espalhado pelo tempo.
Tentar juntar os cacos do que sou.
Gosto de me encontrar no oco de mim, de sentir o sabor desconhecido das minhas sensações.
Como provar um fruto até então desconhecido.
Descobri o doce e o amargo que existe no meu eu mais profundo.
Experimentar ser o que sou.
O que não sei se sou.
Sinto o êxtase quando caio no vazio de mim mesma e chego ao âmago do meu ser.
Chego a essência.
Mas não decifro a matéria.
Não vejo.
Apenas sinto o que sou, mas a descoberta cai no largo do esquecimento quando retorno ao meu extrínseco.
Quando me perco novamente.
Sou só mistério, matéria oculta e incompreesível a mim mesma.
Se ousasse me revelar talvez deixasse, eu, de existir.
Não quero conhecer.
Quero apenas sentir.
E ser.
É vasto.
E me basta.