Adeus
Hoje acordei com você na cabeça.
Abri os olhos bem devagar e sob uma feixe de sol dentre a cortina, lembrei do sol dourado que iluminou nosso dia aquele dia; o dia em que isolados entre um turbilhão de água e muitas sensações, dividimos por igual n'aquele rio e que Rio.
Abri mais os olhos e senti o cheiro doce do café que vinha da cozinha.
Por mais estimulante que possa ser esse cheiro, não desviou meus pensamentos.
'E' e 'se' são duas palavras tão inofensivas quanto qualquer palavra, mas quando estão juntas, lado a lado, elas têm o poder de assombrá lo pelo resto da vida.
'E se' E se E se
Eu sei bem como nossa história acabou, mas se o que você sentia naquela época era verdadeiro, então nunca é tarde demais para seguir seu coração e ter coragem de ser exatamente como é.
E se não tivéssemos brigado, e se não tivesse viajado, e se não houvesse Rio, o de Janeiro, e se E se E
O cheiro do café nunca foi tão próximo e tão íntimo ao mesmo tempo, que chego a pensar na verdade, me vem a certeza que perdi.
Não que perder seja frustrante; perder é uma astúcia.
Uma arte misteriosa.
O sol entra com mais força pela fresta entre a janela e a cortina, que posso até sentir o gosto do café pela boca; um gosto confuso; um tanto amargo, um tanto doce, um tanto ácido; mas é gosto de café.
Acidentalmente tantas coisas são perdidas que perder se torna mero acaso.
Perder é tão substancial que me perco um pouquinho todos os dias.
As vezes me perco por horas, horas de mim mesmo; perco a chave de casa, o horário do trabalho, o aniversário, o encontro.
E porque não o amor
Perdi até a viagem que já fiz, e as que não fiz também.
Já perdi um amor paterno, um amor fraterno, um amor carnal Já perdi um continente meu caro!
Nada disso é imaculado, não muda nada só resta a tal da saudade.
Mesmo que tudo permaneça um mistério, a arte de perder nem é tão honesta faz parte.
Levantei da cama e deixei o sol entrar por completo.
E o dia sorriu pra mim.
Sorriu dolorosamente como quem quer dizer algo
Adeus!