perpetuum móbile – porque nenhum amor acaba
os amantes se separam, se vão.
somem no tempo e no espaço.
mas nenhum amor acaba.
os amores sempre continuam e continuam sempre.
o amante vai e o amor fica num objeto da sala, no cheiro de um livro, na cor do dia, numa palavra, num sotaque, na fumaça do cigarro – não há lugar em que o amor passado viva mais que na fumaça do cigarro; no primeiro gole, talvez.
a lembrança do amor é o próprio amor.
e se ela vive aqui e ali, é só porque o amor também vive.
há mais amor na coleção de não amor do que em qualquer outro lugar.
o amor do passado, que vive no presente e que talvez se junte a outros ainda, não é do tipo que faz mal, que move montanhas ou que desassossega a alma.
ele só está por ali, por aqui, a pairar feito Gasparzinho.
a contar um pouquinho sobre a vida que tivemos, lembrança não autorizada da própria biografia.
o amor do passado às vezes provoca curiosidades: uma espiadinha na vida, uma vontade de saber, um relato de episódio, recorte de momentos
sempre que alguém vai embora, deixa um pouco de si no outro.
e esse deixar é o amor que continua sempre e sempre continua e faz parte da gente como todas as outras coisas.
amor é moto contínuo.