“Tenho uma amiga que quando percebe que eu estou triste costuma me perguntar quem roubou a minha caixa de lápis de cor.
Tem vez que nem pergunta, apenas comenta: “poxa, dessa vez levaram as cores que você mais gosta! ” A tristeza afrouxa um pouco, por mais que eu esteja chateada.
Primeiro, porque é muito bom a gente se sentir olhado com carinho.
Depois, porque essa expressão tem uma inocência capaz de fazer gente grande tocar em coisas sérias sem ficar com medo de queimar a mão.
De vez em quando, ao ouvir a pergunta, acontece de uma lágrima ou outra escapulir, afeitos que alguns sentimentos são a desaguar no rosto quando o coração fica apertado.
Mas, algumas vezes, quando eu choro diante dessa indagação não é pelas cores que não encontro na caixa nem por lembrar de quem supostamente as roubou.
Choro por perceber que ainda dou aos outros o poder de roubá las.
Por notar que, no fim das contas, quem rouba os meus lápis de cor preferidos sou eu.”