Ruínas
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Risos não tem, e em seu magoado gesto
Transluz não sei que dor oculta aos olhos;
Dor que à face não vem, medrosa e casta,
Íntima e funda; e dos cerrados cílios
Se uma discreta muda
Lágrima cai, não murcha a flor do rosto;
Melancolia tácita e serena,
Que os ecos não acorda em seus queixumes,
Respira aquele rosto.
A mão lhe estende
O abatido poeta.
Ei los percorrem
Com tardo passo os relembrados sítios,
Ermos depois que a mão da fria morte
Tantas almas colhera.
Desmaiavam, nos serros do poente,
As rosas do crepúsculo.
“Quem és pergunta o vate; o sol que foge
No teu lânguido olhar um raio deixa;
Raio quebrado e frio; o vento agita
Tímido e frouxo as tuas longas tranças.
Conhecem te estas pedras; das ruínas
Alma errante pareces condenada
A contemplar teus insepultos ossos.
Conhecem te estas árvores.
E eu mesmo
Sinto não sei que vaga e amortecida
Lembrança de teu rosto.”
Desceu de todo a noite,
Pelo espaço arrastando o manto escuro
Que a loura Vésper nos seus ombros castos,
Como um diamante, prende.
Longas horas
Silenciosas correram.
No outro dia,
Quando as vermelhas rosas do oriente
Ao já próximo sol a estrada ornavam
Das ruínas saíam lentamente
Duas pálidas sombras:
O poeta e a saudade.