Eu quero o teu beijo, tua boca na minha inteira.
Tua língua madura enroscada na minha, numa busca sem tréguas e sem caminhos.
Eu quero teu hálito perfumado invadindo meu gosto.
Eu quero engolir o teu desejo, colar teu corpo no meu e num abraço sem fim, olhando nos teus olhos, dizer que tudo o que quero na vida é ter você só pra mim, como numa poesia.
Eu me despeço e sigo trôpego ao sabor do vento.
A madrugada escura envolve com seu nevoeiro a minha alma e o meu coração segue apertado, batendo descompassado e chorando a tua ausência, gritando a distância dos teus beijos e deixando escorrer uma lágrima vermelha que se misturou ao escuro da noite, enfeitando a saudade e o sofrer de mais uma espera com a cor escarlate.
E vento soprou forte cortando o meu rosto triste, carregando me para cada vez mais longe.
O vento sibila em meus ouvidos e congela os meus lábios que agora já não sentem o calor dos teus.
Vento cruel, irresponsável, que veio não sei de onde com a missão de nos separar.
Mas que ele não saiba que enquanto soprava com sua volúpia indesejável, ele trouxe para mim o teu perfume.
E eu aqui calado, sorrio pela felicidade de guardar na distância o teu cheiro, que é o meu cheiro que me invade tirano ao sabor do vento.”
Cinzentos.