Em silêncio levantou e abriu a janela.
Contemplou, com olhos de amor à primeira vista, aquela manhã surpreendente.
O sol que brilhava intensamente lá fora tocava suavemente a sua face; sentia um calor na alma, semelhante ao calor do sangue que corria em suas veias Era a vida se descortinando, se revelando na sua própria delicadeza.
Era a vida se fazendo na mais pura beleza.
Do lado de fora, sob àquela paisagem que pouco a pouco se manifestava, identificava com riqueza de detalhes, cada um de seus pedaços; percebia no frescor daquela manhã, cada um de seus desejos Na paisagem emoldurada, a natureza viva lhe falava sobre as suas verdades ocultas.
E cada uma delas, no seu tempo, sob a luz do sol, ia tomando forma e se transformando em cenas do seu cotidiano.
Na sutileza daquele mágico momento, ouvia a voz da sua memória.
Era um sopro de eternidade trazido pela agradável brisa que vinha do lado de fora.
Na memória, traços de alegria revelavam lembranças daquele tempo em que nada era capaz de lhe roubar a esperança.
Ainda em silêncio, permaneceu ali, pensando em tudo que havia experimentado: nos amores e seus sabores; nos dissabores, também.
Nos julgamentos, nos encontros, nos desencontros Sob o véu da reflexão surgiam por dentro, sentimentos dos mais variados.
Uma mistura híbrida de sentimentos que contrastavam com a beleza daquela paisagem.
Era em parte solidão, mas na solidão havia um pedaço de presença; no medo, a coragem; no começo, o fim.
De repente, um inesperado vento soprou lhe a face, levando com ele os maus sentimentos, trazendo de volta a esperança que havia se perdido dentro do baú das recordações.
A partir daquele dia, cada vez que abria silenciosamente a janela, ouvia um cântico, entoado pelo som da sua própria voz, dizendo que o sol que descortinava a escuridão do quarto era o mesmo que iluminava por dentro.