"Não queria nem pensar.
Nem ter tempo pra pensar.
Não queria minha mente ociosa nem por instantes.
Se ela vaga por apenas um segundo é demais.
Não digo pensar naquilo que quero, não é isso.
Pensar naquilo que é necessário.
Pensar naquilo que eleva, que exalta, que edifica.
Também não é esse pensar que tento evitar.
Queria não pensar naquilo que penso a cada espaço vazio do meu tempo.
Naquilo que vem a minha cabeça ainda que eu não queira.
Aquilo que involuntariamente vem e me corrói, que me fere.
Tento fechar meus olhos para aquilo que não quero ver, e quanto mais eu tento, mais enxergo.
Parece que aquilo que não quero ver me atrai, chama pelo meu nome.
Também não queria nem olhar.
Nem ter tempo pra olhar.
Não queria meus olhos ociosos nem por um segundo.
Eles são olhos nítidos, enxergam, então ardem, lacrimejam.
Brilham, mas um brilho triste.
Olhos caídos, sem vida.
Porque pensamos naquilo que não queremos Porque não conseguimos evitar Porque nossas olhos insistem em ver aquilo que nos causa mal Porque a gente não consegue se desligar Porque ao deitar essas coisas nos assombram Porque a cada vazio essas lembranças nos remoem
É nesse sentido.
Não queria pensar, nem enxergar.
Nem mesmo por um segundo.