Loucura de sonho naquele silêncio alheio!
A nossa vida era toda a vida O nosso amor era o perfume
do amor Vivíamos horas impossíveis, cheias de sermos
nós E isto porque sabíamos, com toda a carne da nossa
carne, que não éramos uma realidade
Éramos impessoais, ocos de nós, outra coisa qualquer Éramos
aquela paisagem esfumada em consciência de si própria
E assim como ela era duas de realidade que era, e ilusão
assim éramos nós obscuramente dois, nenhum de nós sabendo
bem se o outro não era ele próprio, se o incerto outro vivera.
..
Quando emergimos de repente ante o estagnar dos lagos sentíamo
nos a querer soluçar Ali aquela paisagem tinha os
olhos rasos de água, olhos parados cheios de tédio inúmero de
ser Cheios, sim, do tédio de ser qualquer coisa, realidade ou
ilusão e esse tédio tinha a sua pátria e a sua voz na mudez e
no exílio dos lagos E nós, caminhando sempre e sem o
saber ou querer, parecia ainda assim que nos demorávamos à
beira daqueles lagos, tanto de nós com eles ficava e morava, simbolizado
e absorto