A gente poderia se conhecer numa churrascaria, numa noite chuvosa de segunda feira, aniversário de um amigo em comum.
Você poderia sentar atrás de mim numa prova qualquer de concurso público, me achar familiar e com um pouco de vergonha me perguntar as horas e se não nos conhecemos de algum lugar.
Eu poderia visitar a igreja que você frequenta, eu te olharia de lado, acharia você bonito e perguntaria pra minha amiga quem você era.
Você poderia vim assim sem nenhuma pretensão, numa terça a tarde na sorveteria da esquina, numa festinha de criança na escolinha do meu sobrinho.
A gente poderia ser fã da mesma banda e colecionar a mesma série de livros.
Meu pai e você torceriam para o mesmo time, a sua gargalhada seria meu motivo de gozação e meu jeito manteiga derretida seria o seu.
Minha camiseta preferida poderia ser uma que você me presenteou pra se desculpar da nossa primeira briga, a sua camisa mais bonita poderia ser a que você usou no nosso primeiro encontro.
A gente poderia discutir sobre o destino de nossa primeira viagem, sobre o brinde de uma compra na internet, sobre a justiça do árbitro num jogo qualquer.
Eu poderia convidar você pra ver a lua na beira da praia a noite, você poderia me convidar pra uma exposição no museu de arte.
Você poderia ser o primeiro a me dar um anel de compromisso e eu a primeira a te dar a coleção de todas as temporadas de Friends.
Meu irmão implicaria com seu cabelo e sua mãe adoraria meus anéis.
A gente dormiria todo domingo depois do almoço no tapete da sala da sua casa e elegeríamos a segunda feira como o dia do“nós”.
Você seria meu admirador declarado e eu seria a sua fã enrustida.
Nossos olhares brilhariam na visão um do outro, e o final de um dia enfadonho de trabalho ainda teria cor, porque passaríamos a noite na minha casa arrumando tudo para a festa de aniversário de casamento dos meus pais.
Você poderia chegar amanhã, mês que vêm, daqui há alguns anos, mas vê se não demora tanto, vê se não se perde com essas meninas patricinhas vazias, vê se não viaja pra longe de mim ou vê se vem morar na minha rua, mas não deixa eu perder a esperança de acreditar que você vai vir, não deixa eu encontrar um meio amor qualquer e perder de viver uma grande história, a nossa história.