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Martha Medeiros

Gente light
Vou ao supermercado e observo o crescimento do setor de dietéticos.
Abro revistas e me deparo com as exigencias de ter um corpo esbelto.
As clínicas de cirurgia plástica estão com a agenda lotada de homens e mulheres esperando sua vez para lipoaspirar, contar, reduzir.
A sociedade toda conspira a favor da magreza, e de certo modo isso é positivo, sem magro faz bem para a auto estima e para a saúde.
Mas não tenho visto ninguém estimular outro tipo de dieta igualmente necessária para o bem estar da população.
Encontro suco light, chocolate light, iogurte light, mas pessoas light é raridade.
Muita gente se preocupa em ser magro, mas não se preocupa em ser leve.
Tem criaturas aí pesando 48 quilos e é um chumbo.
São aqueles que vivem se queixando.
Possuem complexo de perseguição, acham que o planeta inteiro está contra eles.
Não se dão conta de sua arrogância, possuem a certeza de que são a razão da existência do universo.
Estão sempre dispostos a fazer uma piadinha maldosa, uma fofoquinha desabonadora sobre alguém.
Ressintidos, puxam o tapete dos outros para se manter em pé.
Não conseguem ver graça em nada, não relevam as chatices domuns do dia a dia, levam tudo demasiadamente a sério.
são patrulhadores, censores, carregam as dores do mundo nas costas.
Magrinhos, é verdade.
Mas que gente pesada.
Ser minimalista todo mundo acha moderno, mas ser leve cruzes! parece pecado mortal.
Os leves, segundo os pesados, não têm substância, não têm profundidade, não têm consciência intelectual: não são leves, e sim levianos.
Os pesados não conseguem fechar o zíper das suas roupas de tanto preconceito saltando pra fora.
Não bastasse a carga tributária, a violência, a burocracia e a corrupção, ainda temos que enfrentar pessoas rudes, sem a menor vocação para se divertir.
Diversão segundo os pesados, mais uma vez é algo alienante e sem serventia.
Eles não entendem como alguém pode extrair prazer de coisas sérias como trabalho e família.
Não entendem como é que tem gente que consegue viver sem armar barracos e criar problemas.
Eu proponho uma campanha de saúde pública: vamos ser mais bem humorados, mais desarmados.
Podemos ser cidadãos sérios e responsáveis e, ao mesmo tempo, leves.
Basta agir com delicadeza, soltura, autenticidade, sem obediência cega às convenções, aos padrões, ao patrões.
Um pouco mais de jogo de cintura, de criatividade, de respeito às escolhar alheias.
Vamos deixar para sofrer pelo que é realmente trágico, e não por aquilo que é apenas um incômodo, senão fica impraticável atravessar os dias.
Dores de amor, falta de grana e angústias existenciais são contingências da vida, mas você não precisa soterrar os outros com seus lamentos e más vibrações.
Sustente seu próprio fardo e esforce se para aliviá lo.
Emagreça onde tem que emagrecer: no espírito, no humor.
E coma de tudo, se isso ajudar.

VELHOS AMIGOS, NOVOS AMIGOS
Quem é seu melhor amigo(a) Deixe ver se adivinho: estuda na mesma escola ou cursinho, tem a mesma idade (talvez um ano a mais ou a menos), freqüenta o mesmo clube ou a mesma praia.
Se errei, foi por pouco.
Não é vidência: minha melhor amiga também foi minha colega tanto na escola quanto na faculdade e nascemos no mesmo ano.
São amizades extremamente salutares, pois podemos dividir com eles angústias e alegrias próprias do momento que se está vivendo.
Mas fique esperto.
Fechar a porta para pessoas diferentes de você é sinal de inteligência precária.
Durante a adolescência, é vital repartir nossas experiências com pessoas que pensem como nós e que tenham o mesmo pique: é importante sentir se incluído num grupo, de pertencer a uma turma.
Perde se, no entanto, o convívio com pessoas de outras idades e de outros "planetas", que muito poderiam lapidar a nossa visão de mundo.
Entre iguais, tudo é igual.
A vida ganha movimento é na diferença.
Se você é rato de biblioteca, iria se divertir ouvindo as histórias contadas por um alpinista experiente.
Se você tem muita grana, ficaria surpreso em saber como dá duro o cara que trabalha de
dia para poder estudar à noite e o quanto ele precisa economizar para tomar dois chopes no sábado.
Se você curte música, seria bacana conversar com quem curte teatro.
Se você é derrotista, seria uma boa bater um papo com quem já sofreu de verdade.
Você, que se acha uma velha aos 27 anos, iria se divertir muito com os relatos de uma cinquentona irada.
E você, beirando os 60, se surpreenderia com a maturidade de um garoto de 18.
Para os de meia idade, nada melhor do que ter amigos nos dois extremos: da garotada que lhe arrasta para dançar até aqueles que estão numa marcha mais lenta, que já viveram de tudo e de tudo podem falar.
A cabeça da gente comporta rafting e música lírica, videoclipes e dança flamenca, ficar com alguém por uma noite e ficar para sempre.
É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante.
No mínimo, nos fazem dar boas risadas.
Vale amizade com executivo e com office boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido.
Vale sempre que houver troca.
Vale inclusive pai e mãe.