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Maicon Carlos

Cavalheirismo interesseiro
Saindo da casa da minha namorada, que agora é ex namorada, isso faz uns três meses, eu acho, fui dar uma passada na praça, coisa que não fazia havia tempo, por causa das repressões do namoro.
No caminho encontrei uns amigos e a Margarida.
Eu não tinha nada com a Margarida, muito menos imaginaria ter algum dia.
Passei apenas pra dar um alô, e já me despedi e Margarida foi comigo até a praça, paramos numa lanchonete, ela não queria comer, ficou fazendo me companhia enquanto eu comia.
Tivemos uma conversa muito agradável, embora eu não me sinta bem quando estou comendo e conversando com alguém.
Tenho medo da imagem bizarra das minhas mastigações e minhas abocanhadas no sanduíche, isso é muito pessoal.
Mas eu gostei muito da doçura, da inteligência e da sensatez daquela menina, mas logo vinha à minha mente a lembrança do meu compromisso de namoro.
Meu último ônibus era às vinte e três horas, e trinta minutos, e já eram vinte e três e vinte minutos, ou seja, eu tinha ainda dez minutos até o ônibus aparecer.
Ela decidiu ir embora também, não havia mais quase ninguém na praça.
Margarida morava ali perto, eu poderia acompanhá la até em casa, mas mesmo que eu voltasse correndo pro ponto passariam os dez minutos.
Eu poderia ir andando pra casa, mas demoraria quarenta minutos, e eu tinha namorada, portanto o cavalheirismo não valeria à pena.
Tchau Margarida, obrigado pela companhia.
Obrigado você, boa noite!
Um mês depois eu estava solteiro, e apaixonado por Margarida, e ela nem olhava mais pra mim.
Maldito cavalheirismo interesseiro!

Até que a morte os separe
O filósofo Arthur Schopenhauer disse que o casamento é uma dívida que se obtem na juventude e se paga na velhice, mas na época em que ele disse isso a separação era algo praticamente incomum, e de fato só a morte separava um casamento, o que fazia talvez com que os maridos mandassem assassinar suas mulheres, e elas seus maridos.
Hoje em dia as coisas estão mais fáceis, as pessoas terminam tão rápido, às vezes só até acabar a lua de mel, mas o padre ainda continua dizendo a sentença final: até que a morte os separe.
Seria mais fácil dizer “até quando vocês não aguentarem mais olhar pra cara um do outro”, pois sempre chega esse momento, uns casais preferem terminar, outros preferem se torturarem e empurrar com a barriga, até que finalmente a morte os separe
Essa coisa de casamento precisa ser inovada, ter novas regras, acompanhar a mudança de século, acompanhar as mudanças climáticas, as vontades.
Precisa ter uma nova cara, sinceramente não conheço uma pessoa que seja casada e completamente satisfeita, ou feliz por inteira.
O casamento deveria completar os espaços que faltam pra gente ser feliz por inteiro, mas isso só acontece no começo, na lua de mel, afinal a lua de mel é pra adoçar o começo, pois depois é uma amargura que só.
Tudo bem que eu ainda não sou casado, talvez não seja assim mesmo, mas pelos exemplos que vejo já estou traumatizado, mas de uma coisa eu tenho certeza, a sentença final deveria mudar, os padres deveriam dizer: Até que o amor acabe.

Comédia pra fugir da desgraça
Não entendo como as pessoas conseguem gostar de filmes de terror, a vida já é um terror quase que vinte quatro horas, pois temos mais pesadelo do que sonho.
São tantos os problemas que são tão assustadores do que qualquer “O Exorcista”, contas de tudo pra pagar, água, luz, telefone, gás, internet, TV à cabo, cervejas, não, isso não é um dos problemas.
E quando mais pobre se é, mais problemas se tem, e mais medonha se torna a vida.
Quando se é pobre e se tem filhos os problemas se multiplicam de acordo com o número de filhos, com dois filhos, duplicam, três filhos, triplicam e assim por diante.
Por isso que quando vou ver um filme vejo um de comédia, às vezes é preciso fugir da realidade e se iludir um pouco, rir pra não chorar, esquecer que amanha é mais um dia de trabalho grosso pra no fim do mês receber um salário fino, tão fino que depois de uma semana acaba.
Tudo bem que gosto não se discute, por pior que seja o gosto, cada um tem o seu, mas filme de terror não.
Quero sorrir, chega de chorar, chega de ter pavor, medo.
Pior é a pessoa que vai ao cinema como comemora o dia da independência do Brasil, uma vez por ano e quando vai escolher o filme, escolhe um de terror, pra piorar nas cenas aterrorizantes tapa os olhos, tapa os olhos para não ver a cena aterrorizante! A pessoa paga pra sentir medo, mas na hora do medo ela fecha os olhos para não sentir medo, era melhor ter ficado em casa.
Gosto de comédia porque eu esqueço da vida, esqueço do mundo, quanto mais demorar melhor, tem dias que fico fora do mundo, inerte na frente da TV assistido qualquer coisa de comédia, qualquer coisa que me faça rir, pois eu sei que quando acabar o terror voltará.