EpigramaNarciso,foste caluniado pelos homens,por teres deixado cair, uma tarde, na água incolor,a desfeita grinalda do teu sorriso.Narciso, eu sei que não sorrias para o teu vulto, dentro da onda:sorrias para a onda, apenas, que enlouquecera, e que sonhavagerar no ritmo do seu corpo, ermo e indeciso,a estátua de cristal que, sobre a tarde, a contemplava,florindo a para sempre, com o seu efêmero sorriso
Ai, palavras, ai, palavras,que estranha potência a vossa! Todo o sentido da vidaprincipia à vossa porta;o mel do amor cristalizaseu perfume em vossa rosa;sois o sonho e sois a audácia,calúnia, fúria, derrota ”
Improviso do Amor PerfeitoNaquela nuvem, naquela,mando te meu pensamento:que Deus se ocupe do vento.Os sonhos foram sonhados,e o padecimento aceito.E onde estás, Amor Perfeito Imensos jardins da insônia,de um olhar de despedidaderam flor por toda a vida.Ai de mim que sobrevivosem o coração no peito.E onde estás, Amor Perfeito Longe, longe, atrás do oceanoque nos meus olhos se alteia,entre pálpebras de areia Longe, longe Deus te guardesobre o seu lado direito,como eu te guardava do outro,noite e dia, Amor Perfeito.
Tudo em ti era uma ausência que se demorava:uma despedida pronta a cumprir se.
Todo dia é dia de viver o melhor de você.
Por uma vida com mais borboletas no estômago.
Aprendi com as primaveras a deixar me cortar e a voltar sempre inteira.