TODOS ACORDAMOS TRISTES
Todos acordamos tristes e impacientes:
que melancolia desceu na chuva da noite
Que sonhos teve cada um de nós,
já esquecidos e ainda atuantes
Que anjos amargos ficaram à nossa cabeceira
Todos acoradamos com o coração pesado
e os lábios aflitos.
Que bebida acerba nos foi vertida dos céus
Que confidências nos fizeram os mortos e os Santos
Nossos olhos abriram se a custo, sob muito sal.
Nossos braços estavam sem força, ao despertar do dia.
Por que montanhas caminhamos, de íngreme pedra
Que desertos atravessamos, de vento e areia
Em que mares deixamos a sombra do nosso vulto
Acordamos despojados, divididos, dolentes,
e, exaustos, começamos a recompor
aquilo que, sem nenhuma certeza,
supomos, no entanto, ser, em alma e esperança.