NÃO: JÁ NÃO FALO DE TI
Não: já não falo de ti, já não sei de saudades.
Feche se o coração como um livro, cheio de imagens,
de palavras adormecidas, em altas prateleiras,
até que o pó desfaça o pobre desespero sem força,
que um dia, pode ser, parece tão terrível.
A aranha dorme em sua teia, lá fora, entre a roseira e o muro.
Resplandecem os azulejos e tudo quanto posso ver.
O resto é imaginado, e não coincide, e é temerário
cismar.
Talvez se as pálpebras pudessem
inventar outros sonhos, não de vida
Ah! rompem se na noite ardentes violas,
pelo ar e pelo frio subitamente roçadas.
Por onde pascerão, nestes céus invioláveis,
nossas perguntas com suas crinas de séculos arrastando se
Não só de amor a noite transborda mas de terríveis
crueldades, loucuras, de homicídios mais verdadeiros.
Os homens de sangue estão nas esquinas resfolegando,
e os homens da lei sonolentos movem letras
sobre imensos papéis que eles mesmos não entendem
Ah! que rosto amaríamos ver inclinar se na aérea varanda
Nem os santos podem mais nada.
Talvez os anjos abstratos
da álgebra e da geometria.