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Texto sobre Espera

Você sabe o que significa esperar
Confesse, você ainda não tem a dimensão do estado de espera.
Você não sabe o que é aguardar, inclusive com mãos frias a chegada de alguém que não usa relógio por imprecisão.
Você ainda não sabe que a espera é o corte vagaroso, feito no coração.
E você espera o abraço.
O agradecimento.
Espera o tempo do outro.
Espera o cumprimento das obrigações.
Espera os dilemas serem resolvidos e as verdades prevalecerem.
Espera a cartomante.
O horóscopo.
As rezas.
O resultado das promessas.
Você não imagina que é capaz de tantas esperas e sobreviver ao calafrio que elas causam.
E você acredita e se dá conta de que precisa defender outras esperas mais doloridas.
São as esperas que, retardadas trarão uma insuspeitada felicidade.
São as esperas pelo sossego afetivo.
Pela resposta do e mail.
Esperas para repousar no coração do outro.
Para deixar de ocupar o lugar da superficialidade.
Esperas por um olhar, uma piscadela de confirmação, um eterno sim.
Você sabe que esperar muitas vezes borra os sentimentos, envelhece a alma e traz uma angústia escancarada, desejosa de sagrada confirmação.
É.
Esperar a farta porção de desejo do outro para devorar a nossa alma é uma delícia discreta e suarenta.
Ecoa longe o grito da espera.
Vem cá! Não me deixe passear nas belíssimas imagens do meu pensamento, tantas vezes confuso.
A você acaba aprendendo que uma espera custa e não e só uma gorjeta.
Uma espera custa todos os tostões economizados o ano inteiro para o bendito repouso da felicidade.
Benditas esperas valiosas.
Elas custam todas as impaciências do telefone tocar com o pedido de desculpa salvador.
Custam todos os convite que nunca saíram da imaginação.
Uma vontade estúpida de acordar sem saudade.
Custam todas as interpretações dos sinais deixados, que você decifra como uma leve resposta para o coração amoroso.
Custam enxergar indícios de que o romance iniciado no verão tem futuro.
O estado da espera é exatamente proporcional ao olhar piedoso, as lágrimas quase caindo, o andar mil vezes no quarteirão, atravessar o relógio com a visão insistente de águia.
Visitar infinitas vezes as cartas, as lembranças, a caixa de fotos amareladas.
O estado de espera é uma terapia caríssima e ávida para transformar razões desafortunadas em sonhos realizados.
E para ultrapassar vitoriosa, vale tudo.
Vale o drama, as unhas roídas, o suar do corpo, a ânsia noturna e o franzir do rosto.
Faça tudo com as esperas.
Faça drama, misérias, desforra com vinho barato, desistências indecisas, preces, legitimo protesto, xingamentos, desordem interior.
A qualquer custa, faça um texto, um desabafo audível ao mundo, uma canção ou pelo menos uma resposta satisfatória.
Tomara que o para sempre, espere o dia seguinte com notícias felizes, pagamento a prazo e sem reajuste.
Sinceramente eu desejo que as esperas sejam as superstições falidas das ausências.

O homem verdadeiramente humilde não espera encontrar virtude em si mesmo, e quando não a encontra, não se desanima.
Ele sabe que qualquer boa obra que poderia fazer é resultado da obra de Deus nele, e se é obra própria sua sabe que não é boa, por melhor que pareça.
Quando essa crença se torna parte desse homem, algo que opera como uma espécie de reflexo subconsciente, ele se vê liberto do peso de viver segundo a opinião que tem de si mesmo.
Pode descansar e contar com o Espírito para que cumpra a lei moral em seu íntimo.
Muda se o centro de sua vida, do ego para Cristo, que é onde deveria ter estado desde o princípio, e assim se vê livre para servir a sua geração de acordo com a vontade de Deus, sem os milhares de empecilhos que antes tinha.
Se um homem assim falha para com Deus de alguma forma, lamenta o e se arrepende, mas não passa os dias castigando se a si mesmo por seu fracasso.
Dirá com o Irmão Lourenço: "Nunca poderei agir de outra forma se me deixas só; Tu és aquele que deve impedir minha queda e emendar o que é mau", e depois disso "não continuará se torturando pelo acontecido".
Quando lemos sobre a vida e os escritos dos santos, é que a falsa humildade mais entra em ação.
Lemos Agostinho e percebemos não ter sua inteligência; lemos Bernardo de Claraval e sentimos um calor em seu espírito, que não encontramos em nosso próprio em um grau que sequer se lhe assemelhe; lemos o diário de George Whitefield e temos de confessar que comparados com ele somos simples principiantes, noviços espirituais, e que apesar de nossas "vidas tão supostamente ocupadas" vemos muito pouco ou nada realizado.
Lemos as cartas de Samuel Rutherford e sentimos que seu amor por Cristo ultrapassa tanto o nosso, que seria estupidez sequer mencioná los ao mesmo tempo.
É então que a pseudo humildade começa a trabalhar em nome da autêntica humildade e nos leva até o pó numa confusão de autocompaixão e autocondenação.
Nosso amor próprio se volta contra nós mesmos e com grande azedume nos joga em rosto nossa falta de piedade.
Sejamos cuidadosos com isso.
Aquilo que achamos ser penitência pode facilmente ser uma pervertida forma de inveja e nada mais.
É possível que simplesmente estejamos invejando esses poderosos homens, e desanimemos de chegar a ser como eles, imaginando que somos muito santos porque nos sentimos humilhados e desanimados.