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Te Encontrei

O amor da minha vida eu encontrei, tem nome, é de carne e osso, e me ama também.
Agora falta encontrar alguém com quem possa me relacionar.
É que o homem da minha vida não cabe em mim e eu não caibo nele.
Não basta que a gente se queira há muitos anos.
Não basta nossos namoros longos, os rompimentos e a teimosia de desejar mais daquilo que não há de ser.
Não presta que ele me visite pra acabar com as saudades e fuja correndo de pernas bambas e um bumbo no peito.
Não importa que eu esqueça meu nome depois, nem que me perca num oco, ou que os sentimentos corram de ambos os lados, intensos e desarvorados.
Não basta que haja amor para se viver um amor.
Eu e ele somos as cruzadas da idade média, o Osama e o Tio Sam, o preto e o branco da apartheid, o falcão e o lobo, o Feitiço de Áquila.
Seus mistérios me perturbam e minha clareza o ofusca.
Tenho fascínio pelo plutão que ele habita, e ele vive intrigado por minha vênus, mas quando eu falo vem, ele entende vai.
Enquanto ele avista o mar eu olho pra montanha.
Quando um se sente em paz o outro quer a guerra.
É preciso me traduzir a cada centímetro do caminho enquanto ele explica que eu também não entendi nada.
Discordamos sobre o tempo, o tamanho das ondas, a cor da cadeira.
O desacerto é de lascar, e não há cama que resista a tantas reconciliações um dia a cama cai.
Esta semana fui ver a Ópera do Malandro em cartaz no Rio de Janeiro.
Se o Chico Buarque nunca mais tivesse feito outra coisa na vida, ainda assim teria de ser imortalizado pelas alturas em que transita sua poesia nesta obra.
Como ando as voltas com assuntos de amor, prestei atenção na cafetina Vitória que, do alto de sua experiência, ensinava: O amor jamais foi um sonho, o amor, eu bem sei, já provei, é um veneno medonho.
É por isso que se há de entender que o amor não é ócio, e compreender que o amor não é um vício, o amor é sacrifício, o amor é sacerdócio.
Mais adiante Terezinha, a heroína quase ingênua, sofria:
Oh pedaço de mim, oh metade arrancada de mim, leva o vulto teu, que a saudade é o revés de um parto, a saudade é arrumar o quarto do filho que já morreu.
Leva o que há de ti, que a saudade dói latejada, é assim como uma fisgada no membro que já perdi.
Naquela noite, inspirada pelo Chico, voltei pra casa decidida não quero mais o amor da minha vida ocupando o lugar de amor da minha vida.
Venho portanto, pedir a ele publicamente, que libere a vaga.
É com você mesmo que estou falando, você aí, que se instalou feito um posseiro dentro do meu coração, faça o favor de desinstalar se.
Xô.
Há de haver um homem bom, me esperando em alguma esquina desse mundo.
Um homem que aprecie o meu carinho, goste do meu jeito, fale a minha língua, e queira cuidar de mim.
As qualidades podem até variar, mas aos interessados, se houver, vou avisando; existem defeitos que considero indispensáveis.
Meu amor tem de ter uns certos ciúmes, e reclamar quando eu precisar viajar pra longe.
Pode se meter com minha roupa, com corte do cabelo, e achar que sou distraída e não sei dirigir.
Quando ficar surpreso de eu ter chegado até aqui sem ele, afirmarei sem ironia, que foi mesmo por milagre.
Este homem deve querer nosso lar impecável, com flores no jarro, e é imperativo que faça tromba quando não estiver assim.
Ele irá me buscar no trabalho e levará direto pra casa, nada de madrugadas na rua! Desejo enfim que meu amor me reprima um pouco, e que me tolha as liberdades esse vôo alucinante e sem rumo, anda me dando um cansaço danado.

Eu estava no inverno da minha vida e os homens que encontrei pelo caminho eram meu único verão.
À noite eu dormia e tinha visões de mim mesma dançando, rindo e chorando com eles.
Três anos consecutivos em uma infinita turnê mundial e minhas memórias deles foram as únicas coisas que me sustentaram, e meus únicos momentos felizes reais.
Eu era uma cantora, não muito popular, que tinha o sonho de se tornar uma bela poetisa mas uma série de eventos desafortunados destruiu esse sonho e o dividiu como um milhão de estrelas no céu noturno, para que eu fizesse pedidos a elas de novo e de novo brilhantes e destruídas.
Mas eu não me importei, porque sabia que ter tudo que você quer e depois perder isso tudo é saber o que a liberdade verdadeiramente é.
Quando as pessoas que eu conhecia descobriram o que eu fazia, como eu vivia elas me perguntaram por quê.
Mas não faz sentindo falar com pessoas que têm um lar, elas não têm ideia de como é procurar segurança em outras pessoas, procurar um lar onde você possa descansar a cabeça.
Sempre fui uma menina incomum, minha mãe me disse que eu tinha alma de camaleão.
Nada de uma bússola moral apontando para o norte, nada de personalidade fixa.
Apenas uma determinação interna que era tão grande e oscilante quanto o oceano.
E se eu dissesse que não planejava as coisas desse jeito, estaria mentindo, porque eu nasci para ser a outra mulher.
Eu não pertencia a ninguém pertencia a todo mundo, não tinha nada que queria tudo com o fogo de cada experiência e uma obsessão por liberdade que me assustava tanto a ponto de nem conseguir falar sobre isso e me empurrou para um ponto nômade de loucura que tanto me deslumbrava quanto me deixava tonta.
Toda noite eu costumava rezar para achar pessoas como eu e finalmente achei na estrada.
Não tínhamos nada a perder, nada a ganhar, nada que desejássemos mais exceto transformar nossas vidas em uma obra de arte.
Viva rápido.
Morra jovem.
Seja selvagem.
E se divirta.
Eu acredito no que a América costumava ser.
Eu acredito na pessoa que quero me tornar, acredito na liberdade da estrada.
E meu lema é o mesmo de sempre acredito na gentileza dos estranhos.
E quando estou em guerra comigo mesma, eu ando por aí.
Só ando por aí.
Quem é você Você está em contato com todas as suas fantasias mais escuras Você criou uma vida para você mesmo na qual é feliz para experienciá las Eu criei.
Eu sou louca pra caramba.
Mas eu sou livre.