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Reflexões sobre Transformação

Mudanças
Ouço com frequência pessoas dizerem que fulano, sicrano, beltrano, não mudarão, ao fazer referência a dificuldades que experimentam, sejam lá em quais territórios da vida.
Pior até: não mudarão nunca, esse tempo que quer ser algoz das mais sinceras tentativas e das mais ternas esperanças.
Dizem, às vezes, com ares de profecia inequívoca.
Com o tom assertivo da sentença.
Com a perspectiva que não considera a vontade de cada um, o tempo de cada um, a história de cada um.
A força dos gestos, embora tantas vezes ainda tímidos, ainda ensaios, ainda infrutíferos.
A ação transformadora da impermanência, com os contextos que cria e os desdobramentos que produz.
Dizem, esquecidas das voltas que o mundo dá.
Dos caminhos que trilha e descobre, dia após dia, experiência a experiência, todo coração.
Dizem, esquecidas da gentileza.
Eu também já disse, num tempo em que meu julgamento era maior e a auto observação era só palavra.
Não digo mais, aprendi principalmente na convivência comigo que mudança um monte de vezes é inevitável, que em alguns contextos pode fazer muita diferença, mas que também é coisa trabalhosa e delicada.
Que, em algumas circunstâncias, não adianta querer mudar se ainda não se pode: como num jogo de pega varetas, há movimentos capazes de fazer as outras peças todas desmoronarem.
No jogo, tranquilo, apenas perdemos a rodada; na vida, a história pode complicar.
Mudança nem sempre é pra quando se quer, tem vez que é também pra quando já se consegue.
Claro que é possível conseguir quando realmente se deseja, ninguém está condenado a paralisar em lugares indesejados para não desmentir a profecia alheia, mas é preciso ter paciência, estoques dela.
Eu já mudei muito.
Eu já mudei enquanto nem mesmo percebia pela ação silenciosa de acontecimentos.
Eu já mudei coisas que eu nem acreditava ser capaz, poucas e valiosas.
Eu mudo todo dia como toda gente.
E também aquilo que, embora eu queira tanto, ainda não consigo mudar em mim me torna mais empática, mais generosa, mais confiante de que somos todos capazes das mudanças que podem nos tornar melhores, primeiro para nós mesmos, se não desistirmos de nós mesmos.
Mas, no nosso tempo.
Gentilmente.
Com gratidão àquilo que já foi conquistado.
Passo a passo daqueles que de verdade já conseguimos dar.

Mudanças, não há dor maior.
Um novo foco, outro momento, pessoas, lugares, e várias dietas.
Um pouco disso, um pouco daquilo.
Não seriamos seres racionais se não fossemos capazes de nos acometer as mudanças, mesmo as mais irracionais e inconsequentes.
Se não por outro sentido, para que elas serviriam dentro de sua irracionalidade pensada.
Cada novo momento deve ser sentido de forma límpida, afinal no próximo segundo aquilo você chamará de 'vivido', sem medo, porém sei que não sem dor, essa será muito comum.
Mudar dói, dessa certeza tenho.
Abrir mão do que nos fora dado, daquilo que nos fora ensinado, é como roubar doce de criança, e tão copiosamente nosso choro será (e tem que ser) como o de uma também, não há coisa mais desregrada (não podemos ser regras) do que o choro de uma criança, e também devemos ser flexíveis e adaptativos como as mesmas.
Lembrar apenas da maturidade da alguns adultos, não todos, alguns, boa parte deles não tem maturidade.
Nesse processo vamos entender que mudança é melhoria, então para tanto não podemos acreditar que só haverá mudança quando deixar de ser totalmente eu, afinal seria impossível, a personalidade fica e é intrínseca, e também já nos foi dito que somos livres para aquilo que queremos acreditar.
Porém lembre se livre arbítrio que nada, as pessoas não nos deixam livres de seus julgamentos pós mudanças, essa é uma hipocrisia de uma sociedade que se diz livre!
Sim, mas também haverá mudanças que não nos trará melhorias evidentes, aceite que isso fará parte, pois só em aprender a aceitar você já melhorou.
Não fomos ensinados a mudar, só fomos orientados, indicados, e observados.
Não por maldade não nos ensinaram, apenas porquê é impossível ensinar a mudar ou fazer previsões de exatidão, somos experimentais por excelência.
E é nas observações que estaremos sofrendo, onde os picos de sofrimentos serão mais evidentes, dessa forma lembre se que você só precisa ouvir seu coração e nada mais.
Devemos ter em mente que mudar faz preciso em cada rotina, não por viver numa ''bossa'' que não possa passar pelo Rock n' Roll.
É claro que a vida não é uma constante festa, mas devemos sempre evitar a sensação de morte durante ela.
Se puder te pedir apenas uma coisa, então me permita.: Hei, acorde 'Mude ou Melhore', mas saia da rotina.

Tempo,
Hoje não vou te fazer uma daquelas orações rotineiras pedindo piedade no meu futuro, ao contrário, eu vim falar do passado e de tudo que me incomodava nele; o problema é que isso me faz falta no presente.
Eu nunca pensei em te pedir isso, mas me devolve aquelas alegrias camufladas que eu não sabia reconhecer simplesmente por fazerem parte da minha rotina; e você levou.
Eu sei que você vai me interpretar como confusa ou como alguém que não sabe o que quer, mas a verdade é que já não sei nem quem sou eu.
E é por estar tão perdida em mim mesma que clamo sua ajuda: eu não consegui me adaptar com a vida nova, ou talvez me acostumei tanto que quero aqueles dias agitados novamente, não que as últimas 24 horas tenham sido silenciosos, mas agitação de alma é um dos piores desfrutes que já experimentei.
Tempo,
Eu sei que inúmeras vezes desprezei meu passado e subordinei minha própria história na esperança de ser vista com outros olhos, é que eu acho que esqueci que mentir pra mim mesma é, sem dúvidas, a pior mentira.
Mas, tempo, hoje eu descobri, juntando meus pedaços, que não havia nada melhor que a época onde meus sorrisos eram mais alargados e meus choros eram altos.
É, antes eu gostava de chamar atenção, hoje prezo uma invisibilidade que não me ofusca por inteira, mas consome boa parte do meu ser.
Tempo,
É estranho essa sensação de estar entrando no meu próprio passado em fração de segundos, mas ser incapaz de torná lo meu presente e isso só nos afasta mais, pois logo a realidade vem à tona e eu, mais uma vez, tenho que fingir que esqueci de tudo, quanto na verdade eu só armazeno as lembranças no meu ego pra que eu posso encontrá las em momentos de nostalgia, ainda que este me tire o ar e me dê o consentimento que boa parte do meu cérebro está sendo bloqueada; é daí que surgem as angústias que me forçam a correr dos próprios pensamentos e seguir vestindo uma máscara que opaca o meu eu.
Tempo,
Tá tudo tão confuso aqui dentro; eu tento descobrir o caminho que fiz pra chegar até aqui e poder sair, mas não consigo encontrar meu mapa de vida e isso me deixa cada vez mais perdida.
Entre tanto e nada, eu percebi que eu nunca conseguirei sair de onde estou porque meu localizador não me permite regredir e insiste em apitar inúmeras vezes, sempre exclamando que não há um mapa, aliás, essa tal de vida é mais perdida que eu por completo e mais inesperada que sua lógica de traçar destinos.
Tempo,
Traz de volta minha coragem de sorrir
Traz de volta minhas brincadeiras diárias como as únicas preocupações
Traz a paz de espírito
O costume de felicidade
A rua estreita
A fobia de brincar de correr
O medo de cair
Mas a coragem de se aventurar
A vontade de se sujar
O querer de me mostrar ao mundo
Traz de volta até as birras
Até os choros altos
Até o medo de perder minha família que nunca deixou de habitar em mim
Traz de volta quem eu sou, ou era, de verdade
Traz de volta meus sonhos acordados que ainda é visita frequente, mas que já deviam ter se tornado realidade
Traz as novelas que eu assistia e inspirava na minha profissão futura
Traz as músicas que me ensinaram a ti escrever
Traz as pinturas de aquarela
Traz o medo de escuro que ainda me atormenta
Traz a confiança que eu tinha em mim mesma que sempre me elogiava psicologicamente
Traz a sensação de voltar da escola e ir diretamente almoçar
Traz o gosto puro que eu sentia
Traz a minha vida de volta
porque essa foi um engano.
Tempo,
Houveram imprevistos de última hora e, quando eu crescer, eu quero ser criança.
"Compositor de destinos, tambor de todos os ritmos; tempo, tempo, tempo, tempo, entro numa acordo contigo." GADÚ, Maria.