Eu venho de uma longa saudade.
Eu, a quem elogiam e adoram.
Mas ninguém quer nada comigo.
Meu fôlego de sete gatos amedronta os que poderiam vir.
Com exceção de uns poucos, todos têm medo de mim como se eu mordesse.
Estou só e sonho saudade.
E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!
Tudo que sentia era saudade da sua presença.
Chegava tarde da noite, encontrava a casa às escuras.
Era obrigado a atravessar silenciosamente a sala e subir para o quarto, resistindo à tentação de bater à sua porta sob o pretexto de saber se por caso ela ainda estaria acordada.
A carência.
A saudade.
A mágoa.
Um quase desespero, uma espécie de avião em queda, mas que a gente sabe que um dia vai se estabilizar.
O tempo não cura tudo.
Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções.
Na saudade descobrimos que pedaços de nós já ficaram para trás.
E descobrimos, na saudade, uma coisa estranha: desejamos encontrar, no futuro, aquilo que já experimentamos como alegria, no passado.
Só podemos amar o que um dia já tivemos.
A saudade é o bolso onde a alma guarda aquilo que ela provou e aprovou.
Aprovadas foram as experiências que deram alegria.
O que valeu a pena está destinado à eternidade.
A saudade é o rosto da eternidade refletido no rio do tempo.
Eu tenho saudade de mil coisas e todas essas mil coisas sempre caem na mesma única coisa de que eu tenho tanta saudade.
Eu tenho saudade de tudo.
Não é um sentimento egoísta e muito menos possessivo.
É apenas uma saudadezinha.
Gostosa, tranqüila, bonita, saudável, de longe.
Diga que me quer apenas quando for verdade.
Diga que está com saudade apenas se sentir minha falta do seu lado.
Peça minha companhia quando não desejar só meu corpo.
Ligue me quando tiver algo pra dizer.
Mas, por favor, me desligue quando não estiver mais afim de mim.
Saudade de quando eu vivia triângulos, quadrados e polígonos amorosos.
Agora para eu achar graça em alguém demora uma dizima periódica
Quero a loucura da saudade.
Quero o descontentamento que me faz grunhir
no silêncio das madrugadas, quando o cheiro
de dama da noite quase me sufoca no quarto.
A janela fechada não me protege da vida.
Não me importo.
Há mais perigos dentro do que fora de mim.