Lembro como se fosse ontem, mas aconteceu há exatos vinte anos.
Eu estava sozinha não havia um único rosto conhecido a menos de um oceano de distância sentada na beira de um lago.
Fiquei um tempão olhando pra água, num recanto especialmente bonito.
Foi então que me bateu uma felicidade sem razão e sem tamanho.
Deve ser o que chamam de plenitude.
Não havia acontecido nada, eu apenas havia atingido uma conexão absoluta comigo mesma.
Não há como contar isso sem ser piegas.
Aliás, não há como contar, ponto.
Não foi algo pensado, teorizado, arquitetado: foi apenas um sentimento, essa coisa tão rara.
De lá pra cá, nem hino nacional, nem gol, nem parabéns a você me tocam de fato.
Isso são alegrias encomendadas e, mesmo quando bem vindas, ainda assim são apenas alegrias, que é diferente de comoção.
O que me cala profundamente é perceber uma verdade que escapou dos lábios de alguém, um gesto que era pra ser invisível mas eu vi, um olhar que disse tudo, uma demonstração sincera de amizade, um cenário esplendoroso, um silêncio que se basta.
E também sensações íntimas e indivisíveis: você conquistou, você conseguiu, você superou.
Quem, além de você, vai alcançar a dimensão das suas pequenas vitórias particulares
Eu disse pequenas Me corrijo.
Contemplar um lago, rever um amigo, rezar para seu próprio deus, ver um filho crescer, perdoar, gostar de si mesmo: tudo isso é gigantesco pra quem ainda sabe sentir.