Já nascí de modo incomum, protegida, diziam, e tia Izaura, parteira, dizia “empilicada”, fato raro numa cidade tão pequena nos anos 60 exatos.
Crescí descalça a correr pelas “beiradas” de rios, engolindo vento, pastanto com animais, numa vivência que achava ter assim pelo resto do mundo, onde eu fosse..e era tudo tão cheio águas, afetos, pessoas, instantes, alegrias, tudo derramava, até encher os olhos.
Hoje paradoxalmente quero me esvaziar, não dessas lembranças, mas de todo caminho de lá até aqui, justamente para mantê las intactas em mim, e reaver o sentido dessas pequenas coisas para me lembrar que posso retomar caminhos sempre que quiser ou precisar, pois assim o retorno é fácil, como era fácil o riso.
Tenho saudades de rir, gargalhadamente até chorar, de alguma besteira dita ou escutada há muito estou sem riso, não por que culpe alguém, mas porque não me permití, deixei que a vida endurecesse a boca, e nem de mim mesma mais rio, o que me era tão comum estou levando a sério meus erros e defeitos, e isso é péssimo definitivamente essa não sou eu!! Me quero de volta, mesmo que as pessoas não gostem de mim do jeito que sou, não quero mais tentar me adequar ao que elas querem, precisam, e são!!