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Maldade

Sempre fui muito bocuda.
Sem maldade, achava que o mundo estava ao meu lado e que as pessoas só tinham bons sentimentos no peito.
Amarga ilusão.
Por isso, hoje, guardo para mim.
Quem vê até pensa que "espalho" a vida, mas as minhas prioridades ficam guardadas a sete chaves.
Nem meus melhores amigos sabem.
Melhor assim.
Aprendi com a minha mãe que certas coisas devem ficar (bem) guardadas dentro da gente.
Continuo teimosa.
Não adianta, entra ano e sai ano certas coisas não mudam jamais.
Não consigo ver injustiça, então compro brigas que nem são minhas.
Não gosto de gente sem opinião.
Preciso admirar as qualidades e ideias de uma pessoa para ser amiga dela.
Tenho um pouco de agonia de quem não pensa, de quem vai de acordo com a maré, de quem não tem pulso, de quem não gosta de se indispor com ninguém e por isso fica em cima do muro.
Sempre tive uma opinião forte.
E prefiro ser assim do que ser uma mosca morta que ri para todo mundo só pra não perder a amizade de ninguém.
Não sou de fazer tipo, se eu gosto eu gosto.
Essa coisa de tipo não combina comigo, porque eu não sei ser fingida.
Não consigo rir para você se não gosto de você.
Se eu não te suporto, é bem provável que seja apenas educada, mas nunca vou ser sua amiga.
Continuo impaciente.
Não sei esperar, detesto filas, não tenho paciência com quem fala devagar, anda devagar, vive devagar.
Penso que se consigo fazer quatro coisas ao mesmo tempo você também consegue.
Mas estou enganada, eu sei.
As pessoas são totalmente diferentes e isso eu tento aprender todo dia.
Não gosto de quem não sabe rir.
E também prefiro ficar longe de pessoas negativas, que só sabem criticar, julgar ou apontar onde o outro está errado.
Acho que cada um é dono do seu próprio nariz e, sinceramente, tenho mais o que fazer da minha vida.
Tem gente que desperdiça um tempo danado cuidando da vida do vizinho ao invés de olhar para si mesmo.
Procuro olhar para mim todo dia, mas de vez em quando sei que fecho os olhos.
É que é mais fácil a gente tapar o sol com a peneira.
Tenho muito o que mudar, muito para evoluir, muito para alcançar.

Eu venho de lá onde o bem é maior.
De onde a maldade seca, não brota.
De onde é sol mesmo em dia de chuva e chuva chega como benção.
Lá sempre tem uma asa, um abrigo para proteger do vento e das tempestades.
Eu venho de um lugar que tem cheiro de mato, água de rio logo ali e passarinho em todas as estações.
Eu venho de um lugar em que se divide o pão, se divide a dor e se multiplica o amor.
Eu venho de um lugar onde quem parte fica para sempre, porque só deixou boas lembranças.
Eu venho de um lugar onde criança é anjo, jovem é esperança, e os mais velhos são confiança e sabedoria.
Eu venho de um lugar onde irmão é laço de amor e amigo é sempre abraço.
Onde lar acolhe para sempre como o coração de mãe.
Eu venho de um lugar que é luz mesmo em noite escura.
Que é paz, fé e carinho.
Eu venho de lá, e não estou sozinha, “sou catadora de lindezas”, sobrevivo de encantamento, me alimento do que é bom, do bem.
Procuro bonitezas e bem querer, sobrevivo do que tem clareza e só busco o que aprendi a gostar, não esqueço de onde venho e vou sempre querendo voltar.
Meu lugar se sustenta do bem que encontro pelo caminho, junto à maços de alfazema e alecrim.
Há sim, sou como passarinho carregando a bagagem de bondade, catando gravetos de cheiro, para esquentar e sustentar o ninho
Talvez a vida tenha feito você acreditar que este lugar não existe.
Te digo, tem sim, é fácil encontrar.
Silencie, respire, desarme se, perceba, é pertinho.
Este lugar pulsa amor, é dentro da gente, é essência, está em cada um de nós.
Basta a gente querer e buscar.
Rita Maidana