É ela! É ela! É ela! É ela!
É ela! é ela! murmurei tremendo,
e o eco ao longe murmurou é ela!
Eu a vi minha fada aérea e pura
a minha lavadeira na janela.
Dessas águas furtadas onde eu moro
eu a vejo estendendo no telhado
os vestidos de chita, as saias brancas;
eu a vejo e suspiro enamorado!
Esta noite eu ousei mais atrevido,
nas telhas que estalavam nos meus passos,
ir espiar seu venturoso sono,
vê la mais bela de Morfeu nos braços!
Como dormia! que profundo sono!
Tinha na mão o ferro do engomado
Como roncava maviosa e pura!
Quase caí na rua desmaiado!
Afastei a janela, entrei medroso
Palpitava lhe o seio adormecido
Fui beijá la roubei do seio dela
um bilhete que estava ali metido
Oh! decerto (pensei) é doce página
onde a alma derramou gentis amores;
são versos dela que amanhã decerto
ela me enviará cheios de flores
Tremi de febre! Venturosa folha!
Quem pousasse contigo neste seio!
Como Otelo beijando a sua esposa,
eu beijei a a tremer de devaneio
É ela! é ela! repeti tremendo;
mas cantou nesse instante uma coruja
Abri cioso a página secreta
Oh! meu Deus! era um rol de roupa suja!
Mas se Werther morreu por ver Carlota
Dando pão com manteiga às criancinhas,
Se achou a assim tão bela eu mais te adoro
Sonhando te a lavar as camisinhas!
É ela! é ela, meu amor, minh'alma,
A Laura, a Beatriz que o céu revela
É ela! é ela! murmurei tremendo,
E o eco ao longe suspirou é ela!