O suicida não deseja a morte.
A sobrevida talvez.
O cansaço de ser.
Apagar a lembrança quase intermitente do que é.
Ele morre para pontuar.
E colocar um ponto infeliz ao final de sua história.
Espero que
Espero que a chuva nos traga boas lembranças.
Que o vento nos traga o perfume de quem amamos.
Que o dia nos traga novas esperanças.
Que Deus nos ajude a concretizar o que almejamos.
A vida seria impossível se tudo se recordasse.
O segredo está em saber escolher o que se deve esquecer.
Pois as distâncias não existem para a recordação; e somente o esquecimento é um abismo que nem a voz nem o olho podem atravessar.
A recordação é activa.
Não é um objecto perdido que se encontrou.
Ela faz crescer a massa do presente e do futuro.
Não adianta revirar a caixinha de recordações em busca de uma explicação lógica.
Certas coisas não têm explicação.
Muito menos fundamento.
O tempo pode apagar lembranças de um corpo e de um rosto, mas nunca apagara as lembranças de pessoas e sentimentos felizes.
Aquilo a que chamamos recordações são os nossos pensamentos de agora, as nossas exprobrações de agora, a nossa defesa de agora.
Chega uma época em que nos damos conta de que tudo o que fazemos se transformará em lembrança um dia.
É a maturidade.
Para alcançá la, é preciso justamente já ter lembranças.
As coisas são descobertas por meio das lembranças que se têm delas.
Relembrar uma coisa significa vê la apenas agora pela primeira vez.