A ESCOLA E O TALENTO
Demétrio Sena, Magé – RJ.
A educação que a escola oferece não pode fechar os olhos para a cultura e o talento, seja ele nas artes, nos esportes ou nos ofícios, ainda que dissociados da formação acadêmica.
A escola deve reconhecer que não se aprende a ter talento, embora ela tenha como ajudar no mesmo; e quando alguém se revela talentoso, boicotar ou demonstrar menosprezo a depender de sua formação intelectual ou cultura fere todos os princípios da educação.
Quando, por exemplo, menosprezamos o jogador de futebol, o MC, o DJ, o cantor de hip hop ou de funk dotados de conteúdo relevante, só porque alcançaram sucesso e fortuna mesmo sem formação escolar, evidenciamos uma triste contradição: somos arautos e atores do futuro de nossas crianças e nossos jovens, da dignidade, a cidadania, o sonho, a liberdade, o sucesso pessoal, mas ao mesmo tempo execramos tudo isso, por haver faltado a “sagrada grade curricular acadêmica”.
Isso também revela o despreparo de uma classe que perde a classe por despejar suas frustrações com os governantes ou empregadores em quem buscou o sucesso por outros caminhos e o alcançou.
Em um país onde a formação escolar é um calvário para os mais pobres, deveríamos ficar felizes pelos artistas, desportistas, prestadores de serviços, ambulantes, negociadores e afins que desafiaram a falta de oportunidades e arrombaram as portas informais do sucesso.
Valorizemos o talento e incentivemos o seu exercício entre nossos alunos, sem nenhuma cobrança ou atrelamento a notas, empenhos e desempenhos escolares.
O talento, por si só, não atende a essa demanda.
Devemos mostrar ao jovem talentoso que os estudos o ajudarão a lidar melhor com o sucesso e seus resultados perante a sociedade, mas não conseguiremos convencê lo de que sua arte ou seu ofício livre não sobreviverá sem a escola.
Cultura, educação e talento se fortalecem de mãos dadas, mas respeitemos os fenômenos.
Os que venceram de maneiras informais, inusitadas e até solitárias.
Foram aprovados pelo mundo, ainda que reprovados por nós.
O respeito nos representa melhor bem melhor do que o despeito que às vezes assola nossa humanidade nem sempre imune aos sentimentos menores advindos de tantas injustiças contra o educador.