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Declarações Românticas

Amo você quando não é você
Parece aquelas notícias de jornal popular, mas merece uma página inteira na imprensa nobre.
Escute só: um casal em crise estava, cada um, em segredo, trocando e mails com um pretendente virtual.
Ela querendo ver o marido pelas costas e total mente envolvida pelo cara com quem teclava todos os dias.
E o marido querendo que a bruaca evaporasse para poder curtir a gata que conheceu num chat.
Você certamente já matou a charada: cada um marcou um encontro às ganhas com seu amor clandestino e shazam: descobriram que estavam teclando um com o outro sem saber.
Ou seja, marido e mulher não se amavam mais, porém se apaixonaram um pelo outro pela internet, usando pseudônimos.
Imagine a cena: você se arruma para um primeiro encontro com alta carga erótica e dá de cara com seu cônjuge.
Eu iria rir da situação e tentaria reinvestir no casamento desgastado, dessa vez estabelecendo novos códigos, mas o casal em questão não teve senso de humor e pediu o divórcio, alegando que estavam sendo "traídos".
Moralismo nessa hora
Não é preciso teses nem seminários: este fato, isoladamente, consegue explicar e exemplificar o ponto frágil dos casamentos de longa duração.
Todo ser humano é vaidoso uns mais, outros menos e essa vaidade se estende ao campo da sedução.
Por mais que a gente ame a pessoa com quem casamos, a passagem do tempo reduz o feedback sexual.
As transas podem até continuar prazerosas e relativamente assíduas, mas já não temos certeza se seríamos capazes de chamar a atenção de alguém que nada soubesse sobre nós, e esta é uma necessidade que não esmorece nunca: seguimos interessantes seguimos atraentes E a pergunta mais séria entre todas: depois de tanto tempo fundidos com um parceiro, sabemos ainda quem somos nós
Sendo assim, ficamos suscetíveis a uma paquera.
Pela internet, parece seguro, sem conseqüências, mas não impede que nos apaixonemos nem tanto pelo outro, mas principalmente por nós mesmos.
Recuperamos a adolescência perdida: nos tornamos novamente audazes, sedutores e jovens paixão rejuvenesce mais que botox.
É a chance para a gente se reinventar e ganhar uma sobrevida neste mausoléu de sentimentos chamado "estabilidade afetiva".
Não, você não, que é de outra estirpe.
Estou falando de gente comum.
Este casal pagou um mico, mas fez um alerta à humanidade: somos capazes de nos apaixonar por quem já fomos apaixonados, desde que esta pessoa se apresente a nós como uma novidade e nos dê também a chance de sermos quem a gente ainda não foi.
Este marido, que em casa talvez fosse carrancudo e desleixado, revelou se bem humorado e empreendedor para sua nova "namorada".
A esposa, que em casa talvez bocejasse pelos cantos, mostrou se alegre e entusiasmada para o novo "namorado".
Estavam o tempo inteiro conversando com quem conheciam há anos, mas, da forma que se apresentaram, desconheciam se.
Já escrevi uma vez sobre este tema: a gente se apaixona para corrigir nosso passado.
Agora fica claro que podemos corrigir nosso passado com os próprios protagonistas do nosso passado, desde que eles nos enxerguem com olhos mais curiosos, com um coração mais disposto e que acenem com um novo futuro.

O amor Trivial
O que sufoca é o silêncio de tudo que não foi dito, são aquelas conversas sem nenhum preâmbulo, explicação, ou definição, onde nosso coração grita, mas nossa mente teima no faz de conta de não querer escutar e tudo que prevalece é a ausência de um fim, e permanência daquele espaço oculto indistinto, onde as palavras não atingem seu real objetivo.
Definir o indefinivél certamente não é algo fácil, mas permanecer com estas amarras invisíveis, lascivamente dolorosas, é como percorrer tentando buscar o equilíbrio estando nas margens entre caos e o paraíso.
Estarei a beira de minha demência Pois mesmo sendo algoz, me perco no alento e não me permito sucumbir aos anseios! E lhe digo sim, mesmo assim eu gostaria de mais doses elevadas diárias de ti, e um pouco de tudo, e de todo aquele pouco que me pertencia.
Quero de volta aquele seu olhar desconcertante e do desperdício deste vício que rege e consome meus instintos.
Não é digno dizer eu te amo, sem realmente amar, e percebo que muitas vezes faltou me a tal dignidade, não pelo não amar, mas pelo amor na visão de um olhar qual apenas eu poderia enxergar, nesta altura da vida me observo quão egoísta fui e somos.
Mas acredito que ainda prefiro o egoismo ào descuido de um amor, aquele tipo de gente que se empolga, e empolga, lança sobre ti todos os efeitos e defeitos dos artefugios da boa e velha arte da conquista, mas quando atinge seu ápice o alge visceral de um platônico terreno, alça âncoras e segue mar afora em busca de outros "amores", "novas paixões"transformando sentimentos num mero parque de diversão, onde apenas uma única pessoa se diverte, e verbalizando a coisa, isso se resume ao velho e infimo amor trivial.
Rê Pinheiro