Assim que a gente entrega a alma, tudo continua com mortal certeza, mesmo no meio do caos.
Desde o princípio, jamais passou de outra coisa que não o caos: um fluido que me envolvia, que eu respirava pelas guelras.
Nos substratos, onde a lua brilhava constante e opaca, era liso e fecundante; acima, confusa vozearia e discórdia.
Em tudo eu via logo um oposto, uma contradição, e entre o real e irreal, a ironia, o paradoxo.
Eu era o meu pior inimigo.
Não desejava fazer nada que fosse melhor não fazer.
Mesmo em criança, quando não me faltava nada, queria morrer: queria render me porque não via sentido em lutar.
Sentia que nada se provaria, consubstanciaria, somaria ou subtrairia pela continuação de uma existência que eu não pedira.
Todos á minha volta eram um fracasso, ou, se não, ridículos.
Sobretudo os bem sucedidos.
Estes me entediavam até as lágrimas.
Eu era excessivamente compreensivo, mas não por simpatia.
Era uma qualidade totalmente negativa, uma fraqueza que desabrochava à simples visão da infelicidade humana.
Jamais ajudei a quem quer que fosse esperando que isso fizesse algum bem; ajudava porque não podia agir de outro modo.
Parecia me fútil querer mudar a condição das coisas; convencera me de que nada se alteraria, a não ser uma mudança de opinião, e quem conseguiria mudar opiniões dos homens De vez em quando, um amigo se convertia: coisa que me dava engulhos.
Eu não precisava mais de Deus do que Ele de mim, e se houvesse um Deus, dizia me muitas vezes, eu O enfrentaria com toda calma e cuspiria em Sua cara.