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Carta para um Presidiario

CARTA PARA MAMÃE
Tenho saudade de sentir o calor de suas mãos, lembro me quando suas canções me acalmava e quando sua voz confortava minha alma.
Sei que sonhava comigo, no seu imaginar mexia nos meus dedinhos e acariciava meu rostinho cor de rosa, ouvia você chamando me pelo nome que escolheu para mim eu sorria só de ouvir você falar suavemente o meu nome.
Sei que sentia prazer em arrumar minhas roupinhas na gaveta do guarda roupas, cheirava uma a uma antes de guardá las, e sei também que todos os dias limpava meus brinquedinhos e minha mamadeira para que estivessem sempre limpinhos.
Gostava do seu ar de felicidade só de saber que era uma semana a menos que aguardaria minha chegada.
Lembro de todas as noites quando você pedia a papai do céu para me abençoar, depois falava que sempre estaria comigo, falava para eu ser forte, falava para eu aguentar firme e dizia que eu era a sua maior alegria.
Você olhava para as próprias fotos quando pequena, como quem imaginasse se eu pareceria com você.
Lembro também das historinhas que lia para mim eu também me emocionava quando você se emocionava.
Sentia o vigor de sua caminhava, e gostava muito das comidinhas maravilhosas que preparava especialmente para mim.
Mamãe de repente, quando estava perto de minha chegada, comecei sentir sua aflição, meu coraçãozinho pulsava muito mais rápido, podia ouvir seu choro, me assustava quando gritava de angústia e dor.
Podia ouvir quando suplicava para papai do céu se acontecesse algo de mal, que fosse com você e não comigo.
Mas tudo escureceu eu tive que ir não consegui aguentar.
Sofro quando te vejo chorar, dói muito quando sei que está sentindo minha falta, não posso te ver assim eu peço a papai do céu para sempre te confortar.
Sei que sempre sonha comigo e chama pelo meu nome em seus sonhos.
Sei que um dia, mamãe, nós vamos nos encontrar e poderei abraçar aquela pessoa que sempre esteve comigo, aquela mulher que sempre sonhou comigo, e até esse dia chegar quero que saiba: EU SEMPRE ESTAREI COM VOCÊ!

Me desculpa, mas de alguma forma eu achei que precisava te dar uma explicação, eu fui embora da sua vida e você já deve ter percebido (espero que sim).
Escrevi para te dizer que o amor que um dia eu senti, fez as malas, pegou uma carona até a estação e entrou no primeiro ônibus que viu pela frente, sem sequer ler o destino.
O amor foi embora, eu meio que mandei ele ir, a gente brigava sempre e a convivência já não estava fácil, mas não posso mentir que me doeu, eu até sai na porta, o vi pegar uma carona e desaparecer no horizonte.
É isso.
O amor acabou.
No dia em que ele foi embora, eu acordei mais cedo, troquei as cortinas e os tapetes, pra disfarçar todo o estrago que ele tinha feito, coloquei uma musica calma para tocar, comecei a ler um ou dois livros, adotei um cachorrinho abandonado, voltei a ver desenhos e tomar sorvete.
No dia em que ele foi embora, nem doeu tanto, a vida não estava fácil junto dele, eu cantava mais sozinho que cantor solo uma musica pra dois, as brigas eram inevitáveis, a gente sempre quebrava muita coisa e num dia desses eu acabei por me quebrar também, mais ele se foi e agora canto sozinho e sem plateia, em cacos espalhados pelo chão do quarto.
No dia em que ele foi embora, agradeci a Deus pela paz, alguns minutos depois culpei o senhor por tanta solidão, era ruim com ele e é pior sem ele agora, decidi guardar as fotos numa caixa em cima do guarda roupa e quis me guardar junto delas naquela caixa para ver se voltava naquele tempo, o amor foi embora e levou tudo o que tinha, levou parte de mim também.
Sempre sobra comida, com ele aprendi a cozinhar pra dois e agora sobra arroz, feijão, beijos, abraços e lagrimas.
No dia em que ele foi embora, fiquei sem saber o que fazer, o tempo não passava ou quem sabe o dia dobrou de tempo, e mesmo sabendo toda a dor que ele causava eu o quis de volta, os socos na boca do estomago e os nós na garganta e os cortes na alma nem doíam tanto, dói mais essa solidão que ficou depois que ele foi embora, a TV perdeu a imagem e o som, a agenda de contatos estava cheia de nomes e vazia de corações amigos, a internet caiu e ar ficou emperrado no mínimo ou talvez fosse toda a minha frieza se manifestando.
No dia em que ele foi embora, eu aprendi a dor de desejar que não fosse mais do que um pesadelo, pobrezinho, amarrou uma trouxinha nas costas e seguiu sem olhar pra trás, talvez quisesse evitar meus olhos cheios de água que pediam perdão, minha boca num sorriso forçado que por dentro era ilusão, minhas pernas bambas que me impediam de dar um passo sequer para mudar alguma coisa, o amor não olhou pra trás, ainda bem, ele tinha o dom de me ver por dentro e naquele momento eu era ruína, poesia sem rima, canção sem som, eu era fim e ele era a continuação, a minha reticencias que foi embora e me deixou em ponto final.
No dia em que ele foi embora, todo o tesouro do mundo seria dado em troca para que ele voltasse, mais eu não tenho muito, só umas moedas no bolso e muito vazio no coração, o mais triste de tudo talvez seja isso, o amor foi embora e não deixou lembranças.
Alguém, não me lembro quem, disse que o viu embarcar em um ônibus diferente, daqueles que não levam gente e não tem destino final.
Se um dia você o ver, perambulando por ai, me faça um favor.
Diga que o quero de volta, porque o amor foi embora mais eu ainda o amo muito.

Carta da Liberdade
Um dia, eu conheci alguém especial.
E esse dia, se tornou um dia especial.
E por muito tempo, achei que esse dia, ninguém tiraria de mim.
Neste dia, esse alguém, se tornou parte de mim.
Erro, dádiva, ilusão, realidade Não importa, esse alguém se tornou especial.
E esse alguém passou a ser eu, e eu passei a ser esse alguém (ou apenas vivi isso).
E esse alguém secou minhas lágrimas.
E esse alguém suavizou meu ser.
E esse alguém, se sintonizou a mim.
Mas de repente esse alguém se esvaiu, como a água que escapa pelos vãos dos dedos.
Não era abandono, não era traição Era liberdade.
E do mesmo jeito que em um dia especial, conheci esse alguém especial, percebi, então logo de pouco raciocínio (mas talvez grande conflito), que esse alguém, que conheci naquele dia, o que tinha de mais especial era a sua liberdade.
E assim vi, que não estava permitindo deixar ser àquela pessoa especial o que é de fato: um ser livre.
Talvez o zelo, o carinho, o apego, ou até a posse (por que não pensar nisso ) não me permitiram fixar em uma cronologia óbvia e talvez lógica e antiga, de que somos seres livres e especiais.
E então me pergunto: Por que tenho dificuldades de entender a liberdade de um ser tão especial
E diante das diretrizes da vida, cada ser (que também é especial), possui reflexos e reações à imposições que a vida (modificadora de milésimos), contrapõe às nossas realidades (ou castelos construídos na areia próxima a maré que logo sobe).
Na conclusão do meu íntimo, diante de minhas reações, finalizando, entendendo e até mesmo me perdoando (por que não ), que não devo praticar o abandono, nem a mágoa, nem o ciúme
Devo praticar, como pratico, apenas o desapego, de deixar um ser especial (meu ser especial), ser o que é: um ser livre.