Caio Fernando Abreu sobre Amor

Ela não pensava noutra coisa o dia inteiro.
Só no amor que sentia.

Remar, re amar, amar! Mesmo se esse barco estiver furado.

Quando eu parei de procurar ser amada, parece que o mundo começou a me amar mais.

Porque amar também é isso, não Dar o seu melhor pra curar outra pessoa de todos os golpes, até que ela fique bem e te deixe pra trás, fraco e sangrando.
Daí você espera por alguém que venha te curar.
Às vezes esse alguém aparece, outras vezes, não.
E pra ela Por quem ela espera E assim, aos poucos, ela se esquece dos socos, pontapés, golpes baixos que a vida lhe deu, lhe dará.
A moça – que não era Capitu, mas também têm olhos de ressaca – levanta e segue em frente.
Não por ser forte, e sim pelo contrário Por saber que é fraca o bastante para não conseguir ter ódio no seu coração, na sua alma, na sua essência.
E ama, sabendo que vai chorar muitas vezes ainda.
Afinal, foi chorando que ela, você e todos os outros, vieram ao mundo.

Você tem que amar quem você ama agora.
Já, você tem que começar a fazer tudo o que você quer porque a bruxa está do lado esperando.

Foi quando eu senti, mais uma vez, que amar não tem remédio.

Dá vontade de amar.
De amar de um jeito "certo", que a gente não tem a menor idéia de qual poderia ser, se é que existe um.

Mas não me queixo.
O amor que sinto pelos outros quase sempre é suficiente, não precisa nem ter volta.

O nunca mais de não ter quem se ama torna se tão irremediável quanto não ter nunca mais quem morreu.
E dói mais fundo porque se poderia ter, já que está vivo.
Mas não se tem, nem se terá, quando o fim do amor é: never.

Eu só fui perceber que tinha amor quando fiquei longe dele.
Assim mesmo, percebi isso vagamente, e voltei também vagamente por causa disso.
Eu perdi, eu tenho consciência absoluta de que eu perdi a oportunidade de amor mais viva e profunda que me foi oferecida até hoje.
E agora eu não posso fazer mais nada.

Projeções: e amanhã, e depois E trabalho, amor, moradia O que vai acontecer

eu tive tanto amor um dia.

Um amor susto.
Um amor raio trovão, fazendo barulho.
Me bagunça.
E chove em mim, todos os dias.

Não que fosse amor de menos, era amor demais.

‎De alguma forma eu sabia que seria amor.
Eu não sei, mas acho que a gente olha e pensa: 'Quero pra mim'.
Mas dá um frio na barriga, um tremor, um medo de depender de alguém, de sofrer, de escolher errado, de lutar por algo que não vale a pena.
Porque o coração nem sempre é mocinho.
Foi por isso que corri, tentei fugir, mas quando tem que ser, não adianta, é