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valdenir de lima oliveira

Vida Louca
Meus olhos são aquele morro
E o pó é como cachoeira
A boca pede socorro
E o sangue quando ali escorre
É como água na biqueira,
Não sei quem vive
Não sei quem morre
Eu só sei que é livre
Assim como quem corre,
Viver nunca foi brincadeira
A vida sempre teve lá seus aclive
Eu sou a boca
De quem não morde
E o poder de quem não têm,
Eu sou tudo o que você procura
Na falta que me faz também
Acorde a sua locura
Porque o amanhã já vem,
Adote aquela doçura
Pra quem um dia te olhar
Poder dizer amém
Os meus olhos são uma cidade
Numa noite de carnaval
É uma bela amizade
Em pleno canavial
Que vai cortando com a mão
Pra fazer aquele açúcar
Misturando mel com paixão
Até aguçar o que se quer
Nem que seja perdão
Ou ilusão se puder,
Perto do que não vai
Longe do que já vêm
Na pureza de todo dia
No sentido do que não sai
A locura já detêm
E o poder da alegria
Cada vez ficando pra trás
Longe do que não sobe
Perto do que só cai,
Pano que nunca encobre
Menina louca de saia
Confuso destino destraia
E aos poucos um dia descobre
É a vida louca que se vê
Perto do sol que já tá pra nascer
Eu vim na sombra da lua
Muito antes de tudo escurecer,
Pelo o que se faz na rua
Diz que te ensina
E ainda da prazer
Prazer de se ter na cintura
O que devia esquecer
Isso é perto da locura
De quem não têm o que fazer,
Quando a doçura já amarga
O jeito mesmo é correr
Enquanto dá tempo
E os amigo não te larga
Os meus olhos
São os retratos do mundo
Aflição de quem olha
Desespero de quem não vê
Perdição lá no fundo
Decepção se não crê
Aventura de amargar
Nuvem negra em pleno deserto,
Rio a naufragar
Nunca errado
Sempre tão certo
É o preco que temos a pagar
Quando o enredo é incerto
Dá vontade é de afogar
Pra nunca mais chegar perto.

Retirantes
Somos o pó
De uma vida em ruínas
E uma gente
Sem disciplinas
Tentando desatar esse nó
Somos a rampa do morro
E cara mais suja no chão,
Somos enfim aquele choro
Sem a chave do mundo na mão
Somos relâmpagos
Invernos e refrão
Que o trovão da vida
É um poema
Pra moça sem coração
Que vive sempre iludida,
Fazendo dos seus dias
Um dilema
No breu confuso da noite
Sem amor, amigos ou paixão
Somos a voz
Que se solta em vão
Um ser feroz
Na escuridão,
Somos a correnteza
E aquela multidão
Vivendo de incertezas
Querendo tocar
O sol com as mãos,
Somos enfim uma fortaleza
E toda aquela confusão
Somos a liberdade
E toda a solidão
Prisioneiros da desigualdade
E da falta de compaixão,
Pois o mundo é um motor
Que gira em rotação
Onde a verdade
As vezes se esconde
E no peito ainda mora uma dor,
Somos enfim essa multidão
Com essa falta de amor
E perdão
Que a vida as vezes
É como um trator
Um certo quinhão
Pra quem tem outra cor
Nós somos a falta
Que preenche o vazio
A solidão que exalta
E o sucesso um tanto tardio,
Somos o regresso
De quem vem de longe
Trazendo na mala
Sonho e esperança
E também algum documento,
Mulher sempre fica na sala
E criança vem com o tempo
Quando a coisa aqui melhorar
Eu coloco todos na bagagem
E também carrego pra cá,
Pra ver o sol nascer mais bonito
E beleza vai ser trabalhar
Pra se sonhar com o infinito
Primeiro é preciso buscar
Pra depois louvar com o bendito
O que de fato pôde encontrar
Do pó do nordeste sem chuva
Onde só tem curva e peste
Eu vou direto é pra cidade grande
Pra que algo de bom
Lá se manifeste,
Apesar do barulho do som
Diferente de lá do nordeste
Onde tudo era só silêncio
E tão calmo o nosso agreste,
Levo comigo o meu dom
Que tenho há milênios
Uma forma assim de presente
Vinda de uma força celeste
Pra quem tá na vida sem rumo
E longe da casa da gente.