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Tati Bernardi

Cansei de quem gosta como se gostar fosse mais uma ferramenta de marketing.
Gostar aos poucos, gostar analisando, gostar duas vezes por semana, gostar até as duas e dezoito.
Cansei de gente que gosta como pensa que é certo gostar.
Gostar é essa besta desenfreada mesmo.
E não tem pensar.
E arrepia o corpo inteiro, mas você não sabe se é defesa para recuar ou atacar.
Eu eu gosto de você porque gostar não faz sentido.
Permita se.
Se você acha que no fundo mesmo, apesar de todas essas reuniões e palavras em inglês que só querem dizer que você não sabe o que está falando, o que importa é ter pra quem mostrar que saiu o arco íris.
Permita se.
Porque eu não quero que você tenha essa pressa ao ponto de ajudar com as próprias mãos.
Eu quero que você sinta esse prazer que chega aos poucos.
E mata tudo que há em volta.
E explode os relógios.
E chega aos poucos ainda que você ainda não saiba nem quem é pouco e nem quem é lento.
Porque você morre.
Se você prefere a vida quando se morre um pouco por alguém.
permita se.
Eu não faço a menor idéia de como esperar você me querer.
porque se eu esperar, talvez eu não te queira mais.
Eu não queria ir embora e esperar o dia seguinte.
porque cansei dessa gente que manda ter mais calma.
E me diz que sempre tem outro dia.
E me diz que eu não posso esperar nada de ninguém.
E me diz que eu preciso de uma camisa de força.
Se você puder sofrer comigo a loucura que é estar vivo.
se você puder passar a noite em claro comigo de tanta vontade de viver esse dia sem esperar o outro, se você puder esquecer a camisa de força e me enroscar no seu corpo para que duas forças loucas tragam algum equilíbrio.
Se você puder ser alguém de quem se espera algo, afinal, é uma grande mentira viver sozinho, permita se.
Eu só queria alguém pra vencer comigo esses dias terrivelmente chatos.

Cansei de gritar e resolvi latir
Como é horrível ser um animal.
Um animal menininha.
Usar vestidos, fazer as unhas, pintar os lábios, andar pisando leve.
Por dentro, esse animal com fome, desesperado, selvagem, irracional.
Que bom dia que nada, cara.
Que boa noite, que muito obrigada.
Por que você não vem me amansar Rasga o vestido da menininha, rasga.
Mata essa fome que eu estou de engolir seu ego, de te deixar perdido, de acabar com essa sua panca, essa sua distância.
Que se dane o esmalte falso das minhas unhas, eu que já guardei restos de células mortas da sua pele.
Tira essa cor inventada da minha boca, esse tom estúpido de flor artificial.
Faça ela ficar cheia de sangue vivo, entreaberta entre um grito e um riso.
Tira esse meu andar leve e ereto, me entorta, me coloca do jeito que você gosta.
Que bom dia que nada, eu vou latir no seu ouvido se você achar que tem o poder de me magoar.
Para que ferir meu coração se você pode ferir o meu útero Para que dominar minha cabeça se você pode dominar o mundo pequeno e errado que eu inventei
Eu que me faço de bem resolvida, por dentro são palpitações, são vozes de incentivo ao ataque, é calcinha de moça marcada por tanto desejo.
Eu que um dia vou ter que ser mãe, que um dia vou ter que aprender a escrever.
Eu que preciso ser levada a sério, preciso perceber que sou sozinha, preciso cuidar de mim.
Eu que agora me atraso mais um pouco, sendo apenas instintiva.
Olhando você e só querendo correr de quatro até sua canela e morder toda a lógica dessa frieza.
Querendo te enfiar dentro de mim para preencher o vazio de ser incompleta.
Para sempre a vida me deve, e eu devo tanto a ela.
Querendo calar as batidas do meu coração ansioso com nosso atrito desesperado por minutos de paz.
Para sempre o silêncio, de quem não pode pedir, mas morre de desejo, de quem acaba de conseguir, mas morre de culpa.
Olhe para mim, me dá ração que eu estou morrendo.
Olhe para mim, me deseje de novo porque eu estou murchando.
Ou apenas venha me distrair, apenas esqueça todos esses poemas falsos.
Esqueça todas essas justificativas sofridas para uma simples vontade de deitar com você de novo.