Sabrina Niehues

Ei, você aí
Aonde vai
Não ande só na escuridão
Ela pode ser traiçoeira
Mas, ei você
Não se esqueça de me levar consigo
Pois o fim na verdade não é fim
Mas sim um novo início.

Aceitei pedir ajuda.
Aceitei que me chamassem de doente mental.
Mas não aceitei ainda que sou doente.
Não acho que eu seja doente.
Acho que o mundo é doente.
Não sou o tipo de pessoa que não reconhece seus erros.
Talvez eu seja louca, sim, mas não doente.
Não mais que esse mundo.

Eu não sou doente mental.
Só tenho dificuldade de aceitar a realidade.
E a realidade não me agrada.
Porque tudo aqui é ruim.
E eu não sou estranha.
Quantas vezes vocês quiseram desistir também Eu sei que sim, não mintam.
Vocês quiseram, sim.
Vocês também pensam que o fim pode ser uma boa ideia.
Vocês só não admitem porque tem medo dela.
Medo da morte.
Vocês são medrosos.
Tem medo do inevitável.
Vocês tem medo de pedir ajudar psicológica porque vocês tem medo de reconhecer que também são doentes.
Vocês tem medo de si mesmos.
Eu também tenho.
Mas eu busquei por ajuda.
Uma parte minha foi mais forte pra isso.
Eu não tive medo de admitir isso.
E, sabem, eu fiz isso sabendo das consequências.
Sei que machuquei minha família ao admitir que precisava de ajuda.
Mas eu fui atrás de algo melhor Eu admiti minha loucura.
Admito que sou louca.
Mas não mais que vocês, humanos sem caráter.

Não quero que o desespero, que minha mente doente me leve ao fim.
Eu ainda quero viver, é.
Eu ainda sou esperta o bastante para aproveitar a vida.

Vejo gente
Morrendo doente
Esse país não vai pra frente
Nem aquele continente

Eu sou dependente
Pois gosto de nutella
Mas eu estou doente
E não posso comer ela.

A vida é uma merda gigante e fedorenta.

Eu tenho segredos tão sombrios que não gosto de contar nem para mim mesma.

Eu não preciso de ninguém que não concorde
Não preciso de ninguém que de mim discorde.

Preciso tanto falar com alguém
E nesse mundo tão cheio de gente
Eu não encontro ninguém

Talvez este seja um amor doentio.
O tipo de amor que se ama tanto que não se quer desistir de modo nenhum, mesmo sabendo que é um amor impossível.
Talvez Platão estivesse certo quando disse que o amor era uma doença mental.

O amor
É como uma flor
Floresce
Dentro de nós, cresce
Às vezes desaparece
Rápido demais
Como aparece.

Não é o sorriso mais lindo
Não precisa ser
Não tem os mais lindos olhos
Não precisa ter
Não tem os lábios mais gostosos
Não precisa, não precisa não
Não preciso eu dizer te estas mentiras
Pois para mim tudo em ti é o melhor!

Ela era toda linda, por dentro e por fora.
Bem, talvez nem tanto por dentro.
Acho que por dentro a alma dela já estava morta.
Mas ela era legal e linda, aí você se pergunta como pode ter se deixado levar pela impureza do mundo Mas ela foi guerreira, tão valentemente viveu que me surpreendeu.

Um senhor e seu filho
Eu preciso relatar uma cena que vi esta semana.
Eu estava numa sala de espera, esperando para ser atendida pelo meu psiquiatra.
Logo ao lado havia outra porta, onde uma psicóloga atendia um homem, na casa dos 30, talvez.
Mesmo assim, ele já era calvo.
Como o seu pai, sentado junto à mim na sala de espera, esperando pelo filho.
Reparei, quando o homem saiu da sala e sentou se junto ao pai na sala de espera, que sua mão tremia muito enquanto ele contava as notas de dinheiro.
Fiquei um tanto assustada, mas claro que não deixei transparecer.
Às vezes as pessoas parecem estranhas.
Outras vezes, assustadoras.
Acho que nesse caso foi as duas sugestões.
Foi estranho pensar no que será que aquele homem disse àquela psicóloga.
E foi assustador pensar no quanto ele sofre, e no quanto sofre mais ainda seu pai.
E então, pensei que eu e ele estávamos praticamente no mesmo barco.