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Padre Fábio de Melo

A sabedoria popular nos ensina que há sempre um aprendizado a ser recolhido depois da dor.
É verdade.
As alegrias costumam ser preparadas no silêncio das duras esperas.
Não é justo que o ser humano passe pelas experiências de calvários sem que delas nasçam experiências de ressurreições.
Por isso, depois do cativeiro, o aprendizado.
Ao ser resgatado, o sequestrado reencontra se com seu mundo particular de modo diferente.
A experiência da distância nos ajuda a mensurar o valor; e o sequestrado, depois de livre, mergulha nesta verdade.
Antes da necessidade do pagamento do resgate, da vida livre, sem cativeiro, corria se o risco da sensibilidade velada.
A vida propicia a experiência do costume.
O ser humano acostuma se com o que tem, com o que ama, e somente a ruptura com o que se tem e com o que se ama abre lhe os olhos para o real valor de tudo o que estava ao seu redor.
As prisões podem nos fazer descobrir o valor da liberdade.
As restrições são prenhes de ensinamentos.
Basta saber parturiar, fazer vir à luz o que nelas está escondido.
A ausência ainda é uma forma interessante de mensurar o que amamos e o que queremos bem.
Passar pela experiência do cativeiro, local da negação absoluta de tudo o que para nós tem significado, conduz nos ao cerne dos valores que nos constituem.
O resgate, o pagamento que nos dá o direito de voltar ao que é nosso, condensa um significado interessante.
Ele é devolução.
É como se fôssemos afastados de nossa propriedade, e de longe alguém nos mostrasse a beleza do nosso lugar, dizendo: “Já foi seu; mas não é mais.
Se quiser voltar, terá que comprar de novo! ” Compramos de novo o que sempre foi nosso.
Estranho, mas esse é o significado do resgate.
Distantes do que antes era tão próximo, recobramos de um jeito novo.
Redescobrimos os detalhes, as belezas silenciosas que, com o tempo, desaprendemos a perceber.
A visão ao longe é reveladora.
Vemos mais perto, mesmo estando tão longe.
Olhamos e não conseguimos entender como não éramos capazes de reconhecer a beleza que sempre esteve ali, e que nem sempre fomos capazes de perceber.
No momento da ameaça de perder tudo isso, o que mais desejamos é a nova oportunidade de refazer a nossa vida, nosso desejo é voltar, reencontrar o que havíamos esquecido reintegrar o que antes perdido ignorado, abandonado.
O que desejamos é a possibilidade de um retorno que nos possibilite ver as mesmas coisas de antes, mas de um jeito novo, aperfeiçoado pela ausência e pela e pela restrição.
Depois do resgate, o desejo de deitar a toalha branca sobre a mesa, colocar os talheres de ocasião sobre mesa farta.
Fartura de sabores e pessoas que nos fazem ser o que somos!
Refeição é devolução! Da mesma forma como o alimento devolve ao corpo os nutrientes perdidos, a presença dos que amamos nos devolve a nós mesmos.
Sentar à mesa é isso.
Nós nos servimos de alimentos e de olhares.
Comungamos uns aos outros, assim como o corpo se incorpora da vida que o alimento lhe devolve.
A mesa é o lugar onde as fomes se manifestam e são curadas.
Fome de pão, fome de amor!
Depois do cativeiro, a festa de retorno, assim como na parábola bíblica que conta a história do filho que retornou depois de longo tempo de exílio.
Distante dos nossos significados, não há possibilidade de felicidade.
Quem já foi sequestrado sabe disso.
Por isso, depois do sequestro, a vida nunca mais poderá ser a mesma.

“Sofrimento é o destino inevitável, porque é fruto do processo que nos torna humanos.
O grande desafio é saber identificar o sofrimento que vale a pena ser sofrido.
– Se hoje a vida lhe apresenta motivos para sofrer, ouse olhá los de uma forma diferente.
Não aceite todo este contexto de vida como causa já determinada para o fracasso.
Não, não precisa ser assim.
– Deixe se afetar de um jeito novo por tudo isso que já parece tão velho.
Sofrimentos não precisam ser estados definitivos.
Eles podem ser apenas pontes, locais de travessia.
Daqui a pouco você já estará do outro lado: modificado, amadurecido.
– Sofrer é o mesmo que purificar.
Só conhecemos verdadeiramente a essência das coisas à medida que as purificamos.
O mesmo acontece na nossa vida.
Nossos valores mais essenciais só serão conhecidos por nós mesmos se os submetermos ao processo da purificação.”
• Essência de vidro.
Quando os nossos pés descalços se colocam diante das duras pedras do sofrimento
Quando a fragilidade de nossa condição nos leva a trilhar o inevitável caminho das sombras
Quando a vida nos revelar que somos portadores de uma essência de vidro
É importante que a gente se livre da pressa e da facilidade das respostas prontas
Porque diante da dor sofrida, mais vale um silêncio, uma pausa, que uma palavra inoportuna.
• Deus e os absurdos do mundo
A maturidade também se expressa no que pedimos.
Outro exemplo simples.
Uma pessoa fumou a vida inteira, nunca se esmerou por lutar para deixar o vício, e, num determinado momento, descobre que tem câncer.
Então se coloca a pedir a Deus um milagre.
– É justo A doença não nasceu das escolhas que ele fez Será que Deus tem como mudar os destinos de nossas sementes Ele não estaria desrespeitando a nossa liberdade Tenho o direito de querer colher o que na verdade não plantei – Acho pouco provável.
Há um jeito mais interessante de pedir a Deus um milagre: mudar de atitude, antes que nasçam as doenças.
– O milagre é realizado a quatro mãos.
Mãos de Deus e mãos humanas.
Retirado do livro: Quando o sofrimento bater à sua porta

Da esperança, a dor; o sentido oculto que move os pés; o desejo incontido de ver as estradas se transformando, aos poucos, em chegadas rebordadas de alegrias.
Ir; um ir sem tréguas, senão as poucas pausas dos descansos virtuosos que nos devolvem a nós mesmos.
Idas que não findam e que não esgotam os destinos a serem desbravados.
Passagens; páscoas e deslocamentos.
Eu vou.
Vou sempre porque não sei ficar.
Vou na mesma mística que envolveu os meus pais na fé, os antepassados que viram antes de mim.
Vou envolvido pela morfologia da esperança; este lugar simples, prometido por Deus, e que os escritores sagrados chamam de Terra Prometida.
Eu quero.
O lugar sugere saciedade e descanso.
Sugere ausência de correntes e cativeiros
Ainda que o caminho seja longo, dele não desisto.
Insisto na visão antecipada de seus vislumbres para que o mar não me assuste na hora da travessia.
Aquele que sabe antecipar o sabor da vitória, pela força de seu muito querer, certamente terá mais facilidade de enfrentar o momento da luta.
O povo marchava nutrido pela promessa.
A terra seria linda.
Nela não haveria escravidão.
Poderiam desembrulhar as suas cítaras; poderiam cantar os seus cantos; poderiam declamar os seus poemas.
A terra prometida seria o lugar da liberdade
Mas antes dela, o processo.
Deus não poderia contradizer a ordem da vida.
Uma flor só chega a ser flor depois que viveu o duro processo de morrer para suas antigas condições.
O novo nasce é da morte.
Caso contrário Deus estaria privando o seu povo de aprender a beleza do significado da páscoa.
Nenhuma passagem pode ser sem esforço.
É no muito penar que alcançamos o outro lado do rio; o outro lado do mar
E assim o foi.
O desatino das inseguranças não fez barreira às esperanças de quem ia.
O mar vermelho não foi capaz de amedrontar os desejantes da Terra, os filhos da promessa.
Pés enxutos e corações molhados, homens e mulheres deitaram suas trouxas no chão; choraram o doce choro da vitória, e construíram de forma bela e convincente o significado do que hoje também celebramos.
A vida cresceu generosa.
O significado também.
Ainda hoje somos homens e mulheres de passagens; somos filhos da Páscoa.
Os mares existem; os cativeiros também.
As ameaças são inúmeras.
Mas haverá sempre uma esperança a nos dominar; um sentido oculto que não nos deixa parar; uma terra prometida que nos motiva dizer: Eu não vou desistir!
E assim seguimos.
Juntos.
Mesmo que não estejamos na mira dos olhos.
O importante é saber, que em algum lugar deste grande mar de ameaças, de alguma forma estamos em travessia