Tu que falas dos meus pés descalços, não sabe o quanto a realidade me executa.
Zomba dos meus trapos, mas tu que vestes trajes elegantes e permanece nu, encoberto de nada.
Mas, não da nudez envolvente e sim aterrorizante, da face oculta, do mistério desencantado que ocorre em tuas veias.
Teu coração é como uma terra estranha e sem vida.
Aí de ti, se a chuva correr em tua pulsação fria.
Aí de ti, se arar tua plenitude, o teu vazio.
Como é injusta esta tua causa de viver.
Nascestes com a semelhança contrária de Deus.
Tu, sábia sombra do mal que planejas movimentar as palavras para ancorar o remorso nas asas dos que voam pela liberdade.
Tua hora está pairando sobre o invisível.
Hora que no seguinte sopro calará o choro silencioso da criança que um dia renasceu em mim.
Tua hora espreita a maldição que lanças sobre o outro.
Tu jaz uma cova viva, ambulante.
Embriaga se de almas, poço ofusco de ti.
Lamentável e fadigante fim tragaste.
No entanto, com tudo, tuas folhas regem a dor do mortal e eu continuo a viver
Mirla Cecilia 20/01/17
Mirla Santos Ferreira