Pessoa (geminiano)
Muito sutil foi Álvaro de Campos
No Poema em Linha Reta
Peço desculpas ao honrado poeta
Pelo seu canto enigmático e cheio de destreza.
Caro poeta
Todos os seres levam porradas e são traídos
Dói o bastante, portanto, escusa serem declarados,
Não necessitavam a mim, serem elucidados
Nos seus atos violentos de sensações subjetivas,
Seu prazer, ódio, raiva, rancor, ressentimento, mágoa, revolta, tristeza, angústia, dor, solidão e alegria
Prezado poeta
Como poderia conquistá lo
Seria afiançando a minha baixeza
Não poeta
Não foi por essa causa que esteve por tanto tempo ao meu lado.
A semideusa foi o seu encanto.
Essa geminiana que em cada ombro
Carrega de um lado um deus e no outro
o diabo.
Poeta
Reconhecer as falácias é por vezes difícil,
O seu sofisma foi o de estar calado.
E qual foi o seu desencanto
Saber dos meus pecados, escondendo os seus enganos
Sim, pois foi o que procurou
Por não entender o quanto é amado.
Meu digníssimo poeta
Não foi capaz de escutar e entender a voz humana
A bipolaridade geminiana.
Sim, poeta
Somos todos, todos
Infâmias, covardias, porcos, submissos, grotescos, arrogantes
Ridículos e, portanto, enxovalhados
Somos príncipes e princesas
Portanto, poeta
Tornamo nos literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.