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Márcia Duarte

Péssima mania
Tenho mania de tentar mudar as minhas manias.
Implico com meu hábito de falar tudo que me vem à cabeça, detesto não conseguir segurar o choro ou as gargalhadas e simplesmente abomino a idéia de sentir ciúmes.
Muitas vezes antes de dormir fecho os olhos e peço insistentemente para deixar de viver tudo de forma tão exagerada.
Peço para sentir menos, sofrer menos.
Adivinha Em vão.
Só eu sei o quanto eu gostaria de ouvir alguém pedindo opinião e não dar logo meu pitaco.
Queria ver alguma situação ridícula sem me indignar e soltar meu discurso.
Queria não me empolgar tanto quando vejo ou faço algo que me deixa feliz, animada.
Queria controlar o meu jeito de gargalhar compulsivamente quando alguém faz gracinha em lugares onde a gente pode (quase) tudo menos rir.
Certamente eu iria evitar uma série de constrangimentos e confusões.
Se eu pudesse mudar algo em mim, pediria que a minha versão revista e ampliada viesse com um coração menos mole, dramático, tolo.
Queria que as lágrimas não escorressem pelo meu rosto quando vejo alguém chorar, queria não me sentir como se estivesse morrendo por dentro quando sei que mesmo sem querer uma pessoa está triste por minha culpa.
Queria não me machucar com tanta facilidade e também nunca magoar as pessoas que são especiais para mim, por mais que eu tenha consciência de que não sou nada perfeita.
Mas se eu tivesse apenas um pedido a fazer, gostaria de ser mais segura.
Queria não sentir ciúme ou medo de ficar longe de quem eu amo.
Já perdi as contas de quantas vezes li por aí que devemos deixar quem amamos em liberdade.
Se realmente é para ser nosso, vai voltar, nunca foi ou deixará de ser.
Dizem que é um peso muito grande para uma pessoa ser a razão de viver de outra e que nunca, sob hipótese alguma, devemos delegar essa carga a alguém.
Entretanto, como também tenho a mania de não acreditar em tudo que eu leio ou escuto, penso um pouco diferente.
Sinto diferente.
Para mim soa comodista o discurso de que haja o que houver tudo vai permanecer igual.
Acredito que as coisas podem ficar da melhor maneira desde que eu faça a minha parte, aliás desde que todos os envolvidos façam as suas.
Tampouco me assusta a idéia de ser a maior motivação da vida de uma pessoa.
Claro que é uma enorme responsabilidade, mas que devemos abraçar com todo o coração, porque não é um pedido, mas uma necessidade.
É um sentimento recíproco, chama se amor.
Se não fosse pedir demais, também adoraria perder a minha péssima mania de chorar sempre que você olha fundo nos meus olhos e diz que sua vida já não tem sentido longe de mim.
Queria conseguir dizer que eu sinto o mesmo sem antes ter que pedir um minutinho.

Sem pressa
Tudo tem seu tempo certo.
É o que eu costumo repetir para mim mesma, numa tentativa tola de driblar minha ansiedade.
Mesmo que eu acredite piamente que em nada tentar adianta antecipar fatos ou situações, sempre me pego imaginando o futuro, pensando como seria ou será, sonhando com o que ainda não posso ter.
Não se trata apenas de criar expectativas.
É mais do que isso.
É desejar de verdade.
Eu quero tudo e quero agora.
Para mim não basta viver um fim de semana memorável, preciso emendá lo numa segunda feira empolgante e seguir a semana em ritmo acelerado.
Quero viver cada momento com todas as letras maiúsculas.
Quero negrito, sublinhado, neon e nada de reticências.
Quero me embriagar de sentimentos e sensações, sem deixar nem um gole para depois.
Sobra vontade, mas falta energia.
Nenhuma vida tem vigor para tanto.
Eu não tenho.
E quero e não quero ter.
Ao mesmo tempo em que tenho ganas de estar no ápice, preciso do meu sossego.
Quero um equilíbrio com doses de altos e baixos, uma montanha russa que me perturbe por dentro, mas que também aquiete a minha alma.
Meu imediatismo quase não me deixa esperar.
Mas quando espero vejo todas as respostas, consigo entender todos os porquês.
Posso enxergar que sempre acontece o melhor, o que realmente estavamos preparados para viver e sentir de forma plena.
Hoje, depois de um dia inteiro sem parar por um minuto, meus olhos insistiam em sorrir, em contraste com a minha carinha cansada.
Quem me via passar pela rua mal podia imaginar as gargalhadas que eles tanto tentavam esconder.
E eu percebi que não há motivo para ter pressa em voltar para casa.