A Morte, que da vida o nó desata,
os nós, que dá o Amor, cortar quisera
na Ausência, que é contra ele espada fera,
e com o Tempo, que tudo desbarata.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.Que dias há que n’alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.
É ela! É ela! – murmurei tremendo, E o eco ao longe murmurou – é ela! Eu a vi minha fada aérea e pura – A minha lavadeira na janela! Dessas águas furtadas onde eu moro Eu a vejo estendendo no telhado Os vestidos de chita, as saias brancas; Eu a vejo e suspiro enamorado! Esta
O fino aconchego dos seus lábios
Vagueia em meus ouvidos
E numa ânsia descabida e sem
Reluta, eu reclino minhas lascívias
Desejos, na amplidão que veste
O seu corpo de menina mulher.
Não é Amor amor se não vier
Com doudices, desonras, dissensões,
Pazes, guerras, prazer e desprazer,
Perigos, línguas más, murmurações.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê.
Que dias há que n'alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei porquê.
Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
mas não servia o pai, servia a ela,
e a ela só por prémio pretendia.