Uma das maiores burlas dos nossos tempos terá sido o prestígio da imprensa.
Atrás do jornal, não vemos os escritores, compondo a sós o seu artigo.
Vemos as massas que o vão ler e que, por compartilhar dessa ilusão, o repetirão como se fosse o seu próprio oráculo.
Há máquinas de felicidade dispendiosas, que funcionam com enorme desperdício, e há outras econômicas, que, com as migalhas da sorte, criam alegria para uma existência inteira.
Há pessoas que têm os defeitos das suas qualidades, mas outras têm as qualidades dos seus defeitos.
Muita mulher honesta deverá, por exemplo, a virtude à sua falta de encantos; muita gente honesta deverá a lisura à falta de inteligência.
A história da escravidão africana na América é um abismo de degradação e miséria que se não pode sondar.
O que constitui o gênio e a invenção de uma época ficará sendo a técnica, o lugar comum, de outra.
Uma onda de ideias novas, de frases bem cunhadas, que muito custaram aos seus autores, entra diariamente em circulação, e depressa se torna o palrar inconsciente dos iletrados.
Os críticos saqueiam muitas vezes as vítimas que esfaquearam.
Prestai atenção para ver se pouco depois não aparecem, cobertos das vestes e jóias da mediocridade que eles executaram publicamente.
Os críticos sofrem de saturação e de tédio intelectual.
Nada é mais falso que o ar de frescura e de juventude que eles assumem, fazendo crer que a leitura ainda lhes pode dar sensações verdadeiras.
A literatura de outras eras não pode suprir a literatura dos nossos dias.
Cada geração quer exprimir o seu próprio pensamento, e nunca duas épocas diversas, nem sequer duas gerações sucessivas, tiveram os mesmos ângulos intelectuais de visão.
O reinado da mulher talvez venha um dia a ser realidade, mas será precedido por uma greve geral do amor.
O sexo que suportar por mais tempo essa inatividade acabará por triunfar sobre o outro.
Todo o autor, nascendo uma geração mais tarde, repudiaria a sua obra; não há um que, ao envelhecer, não acredite ter progredido sobre a sua mocidade.