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Fabrício Carpinejar

Homem não gosta de mulher que insiste com recados consecutivos, mas também não gosta de mulher que não telefona.
Mulher não gosta de homem que a persegue, mas também não gosta de homem que não a procura.
Homem não gosta de mulher fácil, mas também não gosta de mulher difícil.
Mulher não gosta de homem doce, mas também não gosta de homem rude.
Homem não gosta de mulher que fica com muitos, mas também não gosta de encalhada.
Mulher não gosta de mulherengo, mas também não gosta de travado.
Homem não gosta de ser questionado, mas também não gosta de ser esquecido.
Mulher não gosta de ser contrariada, mas também não gosta de gente passiva.
Homem não gosta de estardalhaço, mas não adia uma bagunça.
Mulher gosta de estardalhaço, desde que não vire bagunça.
Homem não gosta de ser debochado, mas também não suporta ser levado sempre a sério.
Mulher não gosta de brincadeiras sem graça, mas não admite a ausência de brincadeiras.
Homem não gosta de fofoca, mas é o primeiro a contar as novidades aos amigos.
Mulher gosta de fofoca, mas deseja preservar sua privacidade.
Homem não gosta de jantar na casa da sogra, mas também precisa dela.
Mulher não gosta de ser comparada com as antigas namoradas, mas também quer saber todos os detalhes.
Homem não gosta de ser surpreendido, mas também não gosta de saber antes.
Mulher adora um mistério, mas com aviso prévio.
Homem não gosta de comprar lingerie, mas também é o primeiro a criticar a que ela está usando.
Mulher ama comprar lingerie, mas também é a primeira a dizer que a incomoda.
Mulher prefere calcinha bege, não aparece com a roupa.
Homem abomina calcinha bege, aparece demais quando ela tira a roupa.
Homem não gosta de discutir relacionamento, mas também não gosta do silêncio.
Mulher gosta de discutir relacionamento, mas odeia chorar no meio da briga.
Homem não tolera filmes românticos, mas não desliga quando reprisados na tevê.
Mulher não agüenta filmes de ação, mas também é um alívio não pensar muito.
Homem tem dificuldades para se declarar, mas faz o impossível para ser denunciado.
Mulher espera declarações, mas não quando está se arrumando.
Homem reclama dos atrasos, mas também detesta quem chega antes.
Mulher odeia a impaciência do homem, mas também se enerva com a letargia.
Homem não resiste a um videogame, mas também não deseja ser chamado de criança.
Mulher abusa dos diminutivos, mas também diz que cresceu.
Homem pede desculpa quando machuca, mas não aceita desculpa quando machucado.
Mulher se desculpa antes de errar, depois não se lembra.
Mulher desvia o assunto quando se desinteressa, mas não gosta que não prestem atenção nela.
Homem não gosta de ser interrompido, mas vive interrompendo.
Mulher admira poesia, mas não no sexo.
Homem procura agradar a mulher ao recitar poesia no sexo.
Homem não gosta de unhas vermelhas, mas fica excitado com elas num filme pornô.
Mulher gosta de unhas vermelhas porque detesta filme pornô.
Mulher anseia pelas flores, mas nunca tem um vaso para colocá las.
Homem gosta de mandar flores, mas desiste na hora de escrever o cartão.
E ambos não gostam do meio termo.

O AMOR NO COLO
A dor não pede compreensão, pede respeito.
Não abandonar a cadeira, ficar sentado na posição em que ela é mais aguda.
Vejo homens que não têm coragem de terminar o relacionamento.
Que não esclarecem que acabou.
Que deixam que os outros entendam o que desejam entender.
Que preferem fugir do barraco e do abraço esmurrado.
Saem de mansinho, explicando que é melhor assim: não falar nada, não explicar, acontece com todo mundo.
Encostam a porta de sua casa (não trancam) e partem para outra vida.
Não é melhor assim.
Não tem como abafar os ruídos do choro.
O corpo não é um travesseiro.
Seca com os soluços.
Não é melhor assim.
Haverá gritos, disputa, danos.
É como beber um remédio, sem empurrar a colher para longe ou moldar cara feia.
É engolir o gosto ruim da boca, agüentar o desgosto da falta do beijo.
Será idiota recitar Vinicius de Moraes: "que seja infinito enquanto dure".
A despedida não é lugar para poesia.
Haverá uma estranha compaixão pelo passado, a língua recolhendo as lágrimas, o rosto pelo avesso.
Haverá sua mulher batendo em seu peito, perguntando: "Por que fez isso comigo "
Haverá a indignação como última esperança.
Haverá a hesitação entre consolar e brigar, entre devolver o corte e amparar.
Vejo homens que somente encontram força para seduzir uma mulher, não para se distanciar dela.
Para iniciar uma história, não têm medo, não têm receio de falar.
Para encerrar, são evasivos, oblíquos, falsos.
Mandam mensageiros.
Não recolhem seus pertences na hora.
Voltarão um novo dia para buscar suas coisas.
Não toleram resolver o desespero e datar as lembranças.
Guardam a risada histérica para o domingo longe dali.
Mas estar ali é o que o homem precisa.
Não virar as costas.
Fechar uma história é manter a dignidade de um rosto levantado, ouvindo o que não se quer escutar.
Espantado com o que se tornou para aquela mulher que amava.
Porque aquilo que ela diz também é verdade.
Mesmo que seja desonesto.
Desgraçadamente, há mais desertores do que homens no mundo.
Deveriam olhar fora de si.
Observar, por exemplo, a dor de uma mãe que perde seu filho no parto.
O médico colocará o filho morto no colo materno.
É cruel e ao mesmo tempo necessário.
Para que compreenda que ele morreu.
Para que ela o veja e desista de procurá lo.
Para que ela perceba que os nove meses não foram invenção, que a gestação não foi loucura.
Que o pequeno realmente existiu, que as contrações realmente existiram, que ela tentou trazê lo à tona.
Que possa se afastar da promessa de uma vida, imaginar seu cheiro e batizar seu rosto por um instante.
Descobrir a insuportável e delicada memória que teve um fim, não um final feliz.
Ainda que a dor arrebente, ainda é melhor assim.