RENASCIMENTOEu não vou chorar por coisa alguma,estou dando uma segunda chance à vida.Tudo aqui é um milagre.Vou bradar aos céus:– Eu quero raios e trovões! Tenho te como uma mãe abraça o filho que nasceu,cheia de carinho e fée com a certeza cega de que tudo vai dar certo.Estou lapidando meu diamantee a pureza é indescritível,terá o preço de cada manhã futura.Inestimávelcomo o cheiro do amanhecer no campo.Simples como não se esquecer de aguar uma semente,porque essa palmeira que planteinão se envergaránem se quebrará ao convite do vento.Sou como um velho barco quebrando ondas em um mar revolto:LIVRE!
O Rionasce na minha porta preenchendo toda aorta um riode água negrae ferventeque corre alheiocorta ao meioe quebraa paz e jazo silêncioenquanto segue selvagemo veio pulsantee febriltransborda a margema forte correntetranspassa a matae matade repentedeságua em guerraem um mar calmoesse rio lágrimas da alma inundando cada palmoinvadindo a terraa salao peito, a malame afogo dia a diano rio de minh’alma
A PoesiaA poesia caminha pelas ruasem noites silenciosas:insone! Bebe da lua e circula as luzes,brincando com as mariposasque não têm nome.Se senta na calçada e observa como um bêbado –a embriaguês do mundo.Como a dor e o amor,a poesia está em tudo.Basta sentir e olhar para o lado,basta estar apaixonado.
MINHA MELHOR ORAÇÃOEu rezava para Deus minha melhor oraçãoquando te obrigava a um sorriso ligeiropor qualquer bobagem sem graça.Eu bendizia ao Senhorquando te levava à gargalhada,sua irresistível gargalhadaque ecoava por horas no nosso bairrocomo um desatino da felicidade.Eu corria o meu terço mais puro e sagradoquando caçava teus beijos entre os lençóise encontrava meu paraísofincado nos teus olhos de conivência.Eu pedia devotamente ao Redentor– na minha silenciosa súplica –para que a eternidadefosse o quintal dos nossos sonhosou um simples reflexodas horas em que vivemos um do outro.
O VinhoO vinho é o maior amigo do amorE o melhor remédio pra dorSe faz, se refaz: é transformadorE à vida empresta corRespira, transpira Transita no silêncio e inspiraO vinho carrega o cheiro da saudadeE a sofisticação da verdadeComo a mulher é paixão e mais nadaO vinho é poesia engarrafada
SONETO DO AMOR EM COLISÃOCriatura de intensa inquietaçãoé amor que se apresenta em colisão:pintor que na pintura tem prisão,potro que não teme a fúria do peão.Encontro nos teus olhos minh’almaque roubaste com consenso e calma,para ser indômito e imensocaso, enlouquecido e intenso.Secretamente corro teu corpocomo quem tange arisco rebanho,sob a planície de um céu tamanho.Aceita me com pose desfeita– aí está a suplica de socorro –onde nasço e noutro dia morro.
Sobre a Distância e Outras Coisastodos os dias morrem em mim infinitas estaçõesveladas em um templo transparente e quebradiçode ausência entre os segundos e todas as horashá um certo terror pelos cálices que não te calame pelos beijos que não te banham os lábiosnão acredita em distância o pássaro que voa altoe nós também voamos alto, só que pra dentroe igualmente fizemos da leveza libertaçãomas deixe o pássaro, o passado e esqueça tudoainda longe posso acender a vela do teu coraçãoe reconhecer teu olhar descalçoa intensidade da voz e o calor da almae dizer bem suavemente em teu ouvidoque eu atravessei essa ponte em oraçãosim, veio a destempo e passo a passohoje, tudo de ontem ficou sem graçaincendiou a casa, me empurrou do penhascorasgou as palavras pra falar em silênciosem artifício ou prenúncioagora, percorrem minhas veias espaços sem retas me moldei em suas curvas sem dilemas e restosapenas lembranças florescidas em pequenos detalhesum afago adequado, um assanho ousadoo próprio despudor, tomado de assaltoe o amor, vestido de salto
Nossas SombrasNossas sombras permanecerão escondidasna penumbra daquele quarto,aconchegadas entre os lençóise sedentas de nós,implorando para que o dia não amanheçae para que nossa paixão nunca envelheça.
A IRRESISTÍVEL PREDADORASeu sorriso era um convite manifesto,mas despiu se aos poucos, em singelo gesto.Escondia se à sombra, acanhada, indefesa,como uma aranha seduzindo a presa.Respirava desejo, ardor, com malícia contida,e desarmado, surpreso, esperei a investida.Eu era um inseto imóvel, deslumbrado,somente esperando ser devorado.
Eu pedia devotamente ao Redentor na minha silenciosa súplica para que a eternidadefosse o quintal dos nossos sonhosou um simples reflexodas horas em que vivemos um do outro.
É precisoÉ preciso aparar os galhos para fortalecer a raizÉ preciso simplicidade para ser felizSó não cabe ficar caladoE, por medo, morrer parado