Caio Fernando Abreu

Era um amor diferente, quase assim feito uma segurança de sabê lo sempre ali.

Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor.

E outra coisa – não se esforce.
Pelo menos, não tanto.
Não fique aí remando contra a maré, dando murro em ponta de faca.
Veja – se não fora pra ser, não vai ser.
Acredite em mim.
Coisa boba essa sua tentativa de ir além

Mas um dia será demasiado esforço, excessiva dor, e você esquecerá como se esquece um compromisso sem muita importância.
Uma fruta mordida apodrecendo em silêncio no prato.

Mas para nós, que nos esforçamos tanto e sangramos todo dia sem desistir, envia teu sol mais luminoso.

E outra coisa – não se esforce.
Pelo menos, não tanto.
Não fique aí remando contra a maré, dando murro em ponta de faca.

Não se esforce.
Pelo menos, não tanto.
Não fique aí remando contra a maré, dando murro em ponta de faca.
Se não for pra ser, não vai ser.

mas estou aqui parada, bêbada, pateta e ridícula, só porque no meio desse lixo todo procuro o verdadeiro amor.
Cuidado comigo: um dia encontro.

Minha meta, minha metade
Minha seta, minha saudade
Minha diva, meu divã
Minha manha, meu amanhã

Se não fosse amor, não haveria planos, nem vontades, nem ciúmes, nem coração magoado.

Eu também tive meu coração machucado.
Me dei mal, meu bem, ninguém escapa.

Se não fosse amor, não haveria planos, nem vontades, nem ciúmes, nem coração magoado.
Se não fosse amor, não haveria desejo, nem o medo da solidão.
Se não fosse amor não haveria saudade, nem o meu pensamento o tempo todo em você.
Se não fosse amor eu já teria desistido de nós.

Meu coração é uma planta carnívora morta de fome.

E bem sei como tenho tentado me alimentar dessa casca suja que chamamos com fome e pena de pequenas esperanças.

Seu amor não me toca nem comove, sua precisão de mim não passa de fome e você me devoraria como eu devoraria você.
Ah, se ousássemos.