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Martha Medeiros

Percepção de solidão
Uma mulher entra no cinema, sozinha.
Acomoda se na última fila.
Desliga o celular e espera o início do filme.
Enquanto isso, outra mulher entra na mesma sala e se acomoda na quinta fila, sozinha também.
O filme começa.
Charada: qual das duas está mais sozinha
Só uma delas está realmente sozinha: a que não tem um amor, a que não está com a vida preenchida de afetos.
Já a outra foi ao cinema sozinha, mas não está só, mesmo numa situação idêntica a da outra mulher.
Ela tem uma família, ela tem alguém, ela tem um álibi.
Muitas mulheres já viveram isso e homens também.
Você viaja sozinha, almoça sozinha em restaurantes, mas não se sente só porque é apenas uma contingência do momento há alguém a sua espera em casa.
Esta retaguarda alivia a sensação de solidão.
Você está sozinha, não é sozinha.
Então de repente você perde seu amor e sua sensação de solidão muda completamente.
Você pode continuar fazendo tudo o que fazia antes sozinha mas agora a solidão pesará como nunca pesou.
Agora ela não é mais uma opção, é um fardo.
Isso não é nenhuma raridade, acontece às pencas.
Nossa percepção de solidão infelizmente ainda depende do nosso status social.
Se você tem alguém, você encara a vida sem preconceitos, você expõe se sem se preocupar com o que pensam os outros, você lida com sua solidão com maturidade e bom humor.
No entanto, se você carrega o estigma de solitária, sua solidão triplicará de tamanho, ela não será algo fácil de levar, como uma bolsa.
Ela será uma cruz de chumbo.
É como se todos pudessem enxergar as ausências que você carrega, como se todos apontassem em sua direção: ela está sozinha no cinema por falta de companhia! Por que ninguém aponta para a outra, que está igualmente sozinha
Porque ninguém está, de fato, apontando para nenhuma das duas.
Quem aponta somos nós mesmos, para nosso próprio umbigo.
Somos nós que nos cobramos, somos nós que nos julgamos.
Ninguém está sozinho quando curte a própria companhia, porém somos reféns das convenções, e quando estamos sós, nossa solidão parece piscar uma luz vermelha chamando a atenção de todos.
Relaxe.
A solidão é invisível.
Só é percebida por dentro.

VELHOS AMIGOS, NOVOS AMIGOS
Quem é seu melhor amigo(a) Deixe ver se adivinho: estuda na mesma escola ou cursinho, tem a mesma idade (talvez um ano a mais ou a menos), freqüenta o mesmo clube ou a mesma praia.
Se errei, foi por pouco.
Não é vidência: minha melhor amiga também foi minha colega tanto na escola quanto na faculdade e nascemos no mesmo ano.
São amizades extremamente salutares, pois podemos dividir com eles angústias e alegrias próprias do momento que se está vivendo.
Mas fique esperto.
Fechar a porta para pessoas diferentes de você é sinal de inteligência precária.
Durante a adolescência, é vital repartir nossas experiências com pessoas que pensem como nós e que tenham o mesmo pique: é importante sentir se incluído num grupo, de pertencer a uma turma.
Perde se, no entanto, o convívio com pessoas de outras idades e de outros "planetas", que muito poderiam lapidar a nossa visão de mundo.
Entre iguais, tudo é igual.
A vida ganha movimento é na diferença.
Se você é rato de biblioteca, iria se divertir ouvindo as histórias contadas por um alpinista experiente.
Se você tem muita grana, ficaria surpreso em saber como dá duro o cara que trabalha de
dia para poder estudar à noite e o quanto ele precisa economizar para tomar dois chopes no sábado.
Se você curte música, seria bacana conversar com quem curte teatro.
Se você é derrotista, seria uma boa bater um papo com quem já sofreu de verdade.
Você, que se acha uma velha aos 27 anos, iria se divertir muito com os relatos de uma cinquentona irada.
E você, beirando os 60, se surpreenderia com a maturidade de um garoto de 18.
Para os de meia idade, nada melhor do que ter amigos nos dois extremos: da garotada que lhe arrasta para dançar até aqueles que estão numa marcha mais lenta, que já viveram de tudo e de tudo podem falar.
A cabeça da gente comporta rafting e música lírica, videoclipes e dança flamenca, ficar com alguém por uma noite e ficar para sempre.
É importante cultivar afinidades, mas as desafinações ensinam bastante.
No mínimo, nos fazem dar boas risadas.
Vale amizade com executivo e com office boy, com solteiros e casados, meninas e mulheraços, gente que torce para outro time e vota em outro partido.
Vale sempre que houver troca.
Vale inclusive pai e mãe.