Suprema Arte
"Eis minha presente versão no Atelier de minha própria personalidade.
Não que haja nada mais para aperfeiçoar; muito pelo contrário, é apenas o começo de minha obra.
Mas, no que diz respeito a meu próprio eu, sou agora resoluto, inexpugnável, e, seja para o bem ou para o mal, inexorável! Sigo à procura da versão plena, acabada, da tela de meu ego, mas isso não significa pretensão, orgulho ou vaidade.
Não.
Não sou Dalí, a ponto de achar que um dia “morrerei por overdose de satisfação”.
Não, em verdade, sentimento de eterna inquietação alternada com serenidade, agradecimento.
Busco a versão final em meio às pinceladas de percalços, de desacertos, de frieza e maldade deste mundo, seguidas de inúmeras gradações, tonalidades de desilusões da vida, que sequer mancham minha tela essencial.
Marcas Possuo as no corpo e na alma, mas, esses ferimentos, esses rabiscos, não alcançam meu âmago, meu ser, meu substrato.
As inúmeras pinturas retratadas no meu viver, refletem, ora traços de alegria e brilho, ora tons soturnos e sombrios; estes, entretanto, não desgastam um sequer milímetro de matéria de que é feita a moldura de minha existência.
Sempre no limiar do Surreal e do Expressionismo, do Abstrato, flertando, às vezes com o Romantismo, tenho sempre a mão uma espátula para, de forma abrupta e imprevisível, por meio de uma Nova Objetividade, retocar me com movimentos bruscos e definidos para o Hiper Realismo ou puro Construtivismo.
Prossigo pintando, meio gênio, meio insano, sempre retratando me sob uma nova perspectiva.
Afinal, viver é sempre uma arte."