A Despedida que não Tivemos

Eu queria gritar para você e para o mundo o quanto estar com você me fazia bem.
Eu me sentia completa, conseguia ser eu mesma, naturalmente.
Mas o medo de parecer boba demais nunca deixou que eu me abrisse com você nesse nível.
Eu não podia deixar assim tão claro o que sentia e nem ficar exposta para você.
O tempo passou e você continua sem saber.

Admirava a nossa capacidade em sermos sinceros.
Nunca tivemos problema em falar o que estávamos sentindo, o que a gente tinha vontade de fazer, o que gostávamos ou não.
Respeitávamos muito as opiniões e o espaço um do outro.
Você foi embora e eu nunca pude dizer o quanto isso era importante para mim.

Eu fui conquistando você aos poucos.
Eu me empenhei de verdade nessa tarefa, já que todo mundo dizia que isso era difícil de acontecer, que você não se envolvia assim tão facilmente com alguém.
E deu certo.
Você foi completamente envolvido pelo meu jeito e eu achei que já tinha ganhado você.
Eu me descuidei e você foi embora.
Eu me pergunto até hoje em que momento você mudou de ideia e como eu não pude perceber isso.

Nosso relacionamento era tão leve, tão tranquilo.
Havia aquela confiança mútua onde não era necessário ultrapassar limites.
Os meses passaram e nós continuamos sem nenhum peso, sem nenhuma cobrança, sem nenhum tipo de problema.
Talvez por isso tenha terminado tão repentinamente.
Éramos uma constante e, mais cedo ou mais tarde, precisaríamos de alguma emoção, de qualquer um dos lados.
Não saberíamos lidar com isso.

A qualquer hora do dia ou da noite, sem que eu esperasse qualquer coisa, meu celular piscava e lá estava sua mensagem.
Às vezes era algum assunto jogado, sobre um livro ou um filme, sobre a série que a gente acompanhava e suas teorias.
Às vezes era um convite para a gente se ver.
Às vezes era só um elogio perdido sobre a foto que eu acabara de postar.
Hoje meu celular não pisca mais, nem com novas mensagens, nem com respostas que eu ainda procuro.

Conhecer você foi uma das coisas mais aleatórias da minha vida.
Você não tinha nada a ver com o tipo de caras que eu normalmente me relacionava.
Não tinha o meu estilo, não partilhava dos meus gostos e nem do meu jeito excêntrico de levar a vida.
Mas você tinha alguma coisa, algum mistério que me fazia querer desvendar.
Quando você se tornou comum eu não pensei duas vezes antes de ir embora.
Desculpa por ter sido tão egoísta, por ter me alimentado de você e ido embora, sem sequer me despedir.

As coisas foram esfriando do nada.
Você mudou seu comportamento e eu não conseguia entender o porquê.
Aos poucos fomos nos afastando e eu fiquei sem reação, não soube lutar por você, nem pelo que tínhamos juntos.
Eu só queria ter conseguido dizer o quanto eu queria continuar, o quanto eu queria tentar com você.

Ao te ver hoje, sem querer, em algum bar da cidade, foi totalmente estranho para mim.
Você está sempre rodeado de pessoas bonitas e interessantes, aquele tipo de pessoas que encantam qualquer um.
Apesar do nosso lance ter sido algo rápido e intenso, eu fico olhando para você e pensando o que seria se tivéssemos continuado.
Será que eu estaria ali, com seus amigos descolados, rindo de tudo que está em volta Não sei se conseguiria fazer parte do seu mundo.
O que me leva a pensar que foi bom ter terminado como terminou.

Lindo, maravilhoso e esperançoso, como todo comecinho de relacionamento.
Nós nos doávamos igualmente para o que estava surgindo, nem muito e nem pouco.
Os meses passaram e continuávamos no mesmo ritmo, nem mais nem menos, e percebemos que isso não mudaria.
Não existia um sentimento bem definido, além do gostar de estar juntos.
Tudo foi esfriando e fomos nos afastando, sem precisar dizer nada um ao outro.
Simplesmente acabou e ninguém falou.

Nossa história nunca teve um ponto final.
São várias vírgulas, reticências e pontos de interrogação perdidos.
O tempo passa, os anos mudam, a gente muda, mas aquela mensagem aleatória, cheia de referências e saudade sempre chega.
E sempre dá um aperto no coração, uma sensação estranha, uma mistura de empolgação e medo.
A gente já sabe que não vai dar em nada, a gente já sabe o quanto estamos desgastados, mas não conseguimos nos desconectar um do outro.

Acredito que eu não tenha tentado de verdade com você.
Não tinha a maturidade necessária e não queria me esforçar para que desse certo.
Eu mesma me boicotei, cortei todas as possibilidades de você se tornar o amor da minha vida.
Queria dizer que, hoje, eu tentaria.
Tentaria com todas as forças, me jogaria de cabeça e lutaria para ter você.

Você se fazia tão presente na minha vida de uma forma tão natural.
Mesmo que não fosse fisicamente, você estava lá, através de uma mensagem ou em pensamento.
É estranho se acostumar assim tão rápido com a presença de alguém.
É estranho alguém conseguir se fazer assim, tão presente, em tão pouco tempo na vida de alguém.
Hoje sinto falta da sua presença de todas as formas, mas não consigo procurar mais por ela.

Você acrescentou demais a minha vida, me fez crescer e ajudou a me tornar alguém melhor.
Você me colocou em movimento, me fez ter vontade e coragem de correr atrás dos meus sonhos.
Com você eu percebi o quanto era capaz.
Pena que para que conseguir realizar os meus sonhos a gente tenha ficado pelo caminho.
Na atual fase da minha vida você não cabe mais.
Aguardo ansiosa pela fase onde poderemos seguir o caminho juntos.

Nunca fomos de combinar de sair, de mandar diversas mensagens, de criar de fato um vínculo.
A gente se conheceu naquele bar e ele virou, inevitavelmente, o nosso bar.
Quando queríamos nos encontrar bastava ir até lá e tudo acontecia naturalmente, era uma certeza dos dois lados.
Depois de um tempo você começou a ir com menos frequência, começou a ficar menos tempo e hoje são raras as vezes que eu encontro você lá.
Talvez tenha sido mais fácil sumir do que dizer qualquer coisa.
Afinal, você ainda pode voltar a frequentar o mesmo bar.

Não fez sentido.
Até hoje, não faz sentido.
Não entra na minha cabeça e, vira e mexe, eu me questiono novamente o que pode ter acontecido para você ir embora do nada.
Fico voltando o filme na minha cabeça, pensando o que poderia ter feito diferente, o que poderia ter feito para que você tivesse ficado.
Não tenho coragem de questionar o porquê.
Não fez sentido.
Não faz.