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Padre Fábio de Melo

O DESCONCERTO QUE CONSERTA!
Odiar é também uma forma de amar.
Diferente, mas é.
É que o coração humano nem sempre consegue identificar o sentimento que o move.
É claro que existem situações em que o ódio é ódio mesmo, mas, em outras, não.
Você já deve ter experimentado isso que estou dizendo.
Sobretudo no momento em que foi traído, enganado e até mesmo abandonado.
O sentimento foi de revolta e, nela, o amor muda de cor, configura se diferente.
É a mesma coisa que acontece com os animais que se camuflam para sobreviverem às ameaças dos inimigos.
O camaleão é sempre camaleão, mesmo que não possamos identificá lo no seu disfarce.
Da mesma forma fazemos nós.
Quando temos o nosso amor traído, ameaçado pelo descaso do outro, nós nos revestimos de ódio e ressentimentos.
Mas a fonte é sempre o amor.
Ele é o referencial de onde parte a nossa reação.
Nem sempre temos coragem de assumir isso.
A traição nos trava para a misericórdia.
E, então, sentimos necessidade de devolver a ofensa com a mesma moeda.
Por isso, dizemos que odiamos.
Mas só o dizemos, porque o que nos falta é coragem para dizer que amamos.
Camuflados e infelizes
Camuflar é o recurso que usamos com o objetivo de nos justificarmos diante dos outros.
É uma forma que temos de nos sentir menos humilhados.
Não raras vezes, dizer que temos ódio é uma maneira de tentar dar a volta por cima.
Estranho isso, mas acontece.
Talvez seja por isso que as pessoas andam tão distantes dos seus verdadeiros sentimentos.
Tememos a fraqueza.
Tememos que o outro nos flagre no sofrimento que a gratuidade do amor nos trouxe.
Preferimos assumir uma postura marcada pela agressividade a outra que nos mostrasse em nossa fragilidade.
Nos dias de hoje, cada vez mais, acentua se a necessidade de ser forte.
Mas não há uma fórmula mágica que nos faça chegar à força sem que antes tenhamos provado a fraqueza.
E amar é experimentar a fraqueza.
É provar o doloroso campo da necessidade, da carência e da fragilidade.
Amar é uma forma de depender, de carecer e de implorar.
É uma forma de preenchimento de lacunas, visto que o amor é a melhor forma de complementar os espaços.
Admirável desconcerto
Quem ama sabe disso.
Quem é amado, também.
A gratuidade do amor consiste nisso.
Amar quando o outro não merece ser amado.
Surpresa maior não há.
Ser abraçado no momento em que sabemos não merecer ser perdoados.
O amor verdadeiro desconcerta.
O perdão e a reconciliação são a prova disso.
Somente depois de dizermos infinitas vezes "Eu te perdôo", é que temos o direito de dizer "Eu te amo".
Porque, antes do perdão, o que existe é admiração.
Esse último sentimento não é o mesmo que amar.
Só amamos aqueles a quem perdoamos.
E, geralmente, só odiamos aos que amamos, caso contrário seríamos indiferentes.
Pena que tem sido cada vez mais difícil declarar amor no momento em que o outro não merece.
Não temos coragem de tomar essa atitude, porque ela é chamada de fraqueza, coração mole.
E, por medo de sermos vistos assim, camuflamos o amor com as roupas do ódio.
Perdemos a oportunidade de atualizar a gratuidade do amor de Deus na precariedade do amor humano e de surpreender o outro com nosso gesto já transformado pela graça divina.
Na sua vida, não tenha medo de ser fraco, já que a fraqueza representa capacidade de amar.
Quando o outro, pelas mais diversas razões esperar pelo seu ódio, surpreenda o com o seu amor.
Desconcerte o e, assim, você ajudará a consertar o mundo.