Eu era um homem que se fortalecia na solidão; ela era para mim a comida e a água dos outros homens.
Cada dia sem solidão me enfraquecia.
Não que me orgulhasse dela, mas dela eu dependia.
A escuridão do quarto era como um dia ensolarado para mim.
Era um homem feio, com cicatrizes no rosto, mas lindo se você olhasse pra ele tempo suficiente alguma coisa em seus olhos, no seu estilo, sua coragem, sua obstinada solidão.
Eu estava deitado na cama a noite e disse: “Eu vou desistir, pro inferno com isso! ”.
E outra voz em mim dizia: “Não desista! Salve uma pequena brasa, uma faísca.
E nunca dê essa faísca, pois enquanto você a tiver, sempre poderá começar uma chama maior.
Mas divertimento e perigo dificilmente passam margarina na torrada ou alimentam o gato.
Você desiste da torrada e acaba comendo o gato.
Eu me permito apreciar isso, a manipular a coisa a meu favor porque eu tenho a febre da faca amolada, dos céus azuis e profundos.
No meu trabalho, como escritor, eu só fotografo, em palavras, o que vejo.
[ ] Meus dias, meus anos, minha vida viu altos e baixos, luzes e trevas.
Se eu escrevesse só e continuamente da “luz” e nunca mencionasse o outro, então como artista eu seria um mentiroso.
( ) sabia que tinha alguma coisa fora do lugar em mim.
Eu era uma soma de todos os erros: bebia, era preguiçoso, não tinha um deus, idéias, ideais, nem me preocupava com política.
Eu estava ancorado no nada, uma espécie de não ser.
E aceitava isso.
Bem, sou um homem com muitos problemas e suponho que em sua maioria sejam criados por mim mesmo.
Estou falando de problemas com mulheres, jogo, hostilidade contra grupos de pessoas, e, quanto maior o grupo, maior a hostilidade.
Dizem que sou sempre negativo, sombrio e taciturno.