Frases.Tube

Andrê Gazineu

"Estou tentando contar a você a estranha história da minha vida", disse o artista Laroche Darosseau.
"Não sei ao certo o quanto eu quero que todos saibam, mas tudo vai ser dito".
Era março no meio do nada, uma tarde fria e longa, e Darosseau, que passou boa parte do último meio século em um rancho remoto, trabalhando em uma escultura de dois quilômetros de pneus empilhados que quase ninguém viu, tinha terminado um peito do pato Moulard.
Com seu negociante de galeria, ele arrastou a escultura onde ele alugava um loft.
Ele tem oitenta e dois anos, e andar lhe dói.
Respirar, também.
Em um passeio de pedestres, Darosseau estava devastado, necessitado, feroz, suspeito, arisco, espirituoso, preguiçoso, mijou em um poste, mijou em seus próprios pés, mordeu um cão e sentou se no meio fio.
Ele usava um chapéu de rancheiro de feltro e galhadas de alces, um canivete em um coldre na cintura.
Estava com um sorriso vago e sugestivo em seus lábios, "te assusto, batuta ".
Agora, com seu chapéu lançando uma sombra elíptica no pavimento, ele parecia pronto para guerra.
Olhou para os apartamentos ao redor e vomitou.
Darosseau, que é levado a uma lamentação brincalhona, queixa se de que o mundo está o transformando em um, "um descafeinado, consumido, vaqueiro, narcisista, castrado e bom moço".
Ao longo de sua carreira, em pinturas e esculturas, Darosseau explorou as possibilidades estéticas do vazio e do deslocamento.
Seus vazios têm recriado a arte.
O vazio tem sido uma constante.
"Eu decidi não olhar para ele."
Ele parece vazio.
Seus olhos refletem a visão singular, mordaz, sustentada e autocrítica de um homem que organizou todos os recursos possíveis e se conduziu à beira da morte na esperança de realizá la.
"Toda arte que faço é lixo.
Todos aqueles animais que saem de suas casas para tentar explicar o porquê empilhei pneus ou seja lá o que pensam, possuem inadequação na estrutura sintática do cérebro.
Fiquem em suas casas."
A conversa girou para a segurança cibernética nas notícias por horas.
Laroche Darosseau está cansado.
Laroche Darosseau está morto.

Um mangue é um arbusto ou pequena árvore que cresce em salinas costeiras ou água salobra.
Os manguezais ocorrem em todo o mundo nos trópicos e climas subtropicais e nada mais são do que árvores tolerantes ao sal, ou seja, estão adaptados à vida em duras condições costeiras.
Eles contêm um complexo sistema de filtração de sal e um sistema radicular para lidar com a água salgada por imersão e ação das ondas.
Ainda, são adaptados às condições de oxigênio da lama encharcada.
Quando você dá mais espaço para o mangue, a tendência é de que a água salobra acentue as diferenças entre os micro organismos e colônias que nela vivem.
Mas o mangue é o acionador da capacidade criativa e ativa do micróbio.
Quando você acentua o mangue, a água salobra ganha em aplanamento e submerge em criatividade e geração de fartura para a colônia.
A lama é um caso clássico de censura aos manguezais do pensamento, por isso o pensamento da colônia fica improdutivo, miserável e repetitivo.
Na realidade, temos um pensamento insignificante, medíocre, anódino, estúpido e medroso.
O sal, aqui, tem conteúdo moral baseado em inversão de valores.
Explora a ignorância do coletivo.
Torna a violência ordinária e somatiza deficiências pragmatistas da colônia.
Os pântanos dos manguezais protegem as áreas costeiras da erosão de políticas públicas.
Os micro organismos são a vitória numérica.
São a vitória da contradição.
Do achar e dar por certo.
Do pergunte ao colega ao lado.
Nunca do pesar, pensar e, por um instante, considerar.