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Adenilton Cerqueira

Crônica: Lembranças de um velho amigo.
Um dia a maioria de nós irá nos separar.
Sentiremos saudades de todas as conversas jogadas fora, as descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que compartilhamos
Saudades até dos momentos de lágrima, da angústia, das vésperas de finais de semana, de finais de ano, enfim do companheirismo vivido
Quase todos os dias era assim, ele chegava na casa dos meus pais sempre pela manhã, trazia sempre o suor no rosto o corpo cansado e nada no bolso.
(Edson Gomes) mas trazia também sua cartucheira no umbro, (era uma simples espingarda de socar, mas ele a chamava de cartucheira, kkk) de longe já dava para ouvir seus passos arrastando seu chinelo de couro, que ele mesmo dizia confeccionar, era passadas inconfundíveis, estava sempre cansado devido a longa caminhada de sua casa ate a nossa, mas o sorriso e as brincadeiras que era sua marca registrada, sempre chegava primeiro, e nem de longe se percebia o peso do sofrimento que o acompanhava, a fome e o pulmão piando por causa da asma não tirava a sua alegria, que contagiava todos que o conhecia.
Seu nome era: Dingo, mas também poderia ser chamado de trinco lumbrigo, cangaceiro, três por dia, e mais alguns outros que o tempo me fez esquecer.
Talvez por ignorância ou mardade das pior, (como dizia o poeta) em todas as casa tinha o seu copo para beber água separado.
A asma não é contagiosa, mas fosse falar isso para aquelas pessoas e até mesmo para ele, que nunca tomou um banho frio por medo de morrer.
Certa vez meu pai mandou eu e ele prender o gado, (apartar os bezerros) e nesse dia formava se pequenas neves nos céus, combinamos, e nos separamos a procura do gado, após procurar e não achar na parte que ficou para mim, fui ao encontro dele certo de que o encontraria junto com o gado, do outro lado do pasto, e lá estava o gado, e nem sinal dele, após prender o gado e procurar ele por todas as partes foi dar a noticia do seu desaparecimento ao meu pai, que preocupado exclamou: será que não foi tomar banho e morreu afogado Mas logo lembramos que ele não colocaria nem as pontas dos pés em uma água fria.
E já estava escuro quando meu pai disse: monta ai nesse jegue e vá na casa dele saber se ele chegou por lá.
Gelei Morria de medo de andar a noite, mas não me atreveria dizer isso ao meu pai, e lá fui eu.
Oi de casa! Quem é Respondeu o próprio.
E lhe perguntei por que sumiu E rindo ele responde você não viu a chuva que se formava Fiquei puto de raiva, mas ele veio me trazer até próximo a minha casa.
Certa vez ele chegou la em casa, quando o dia ainda clareava, percebi em seus olhos que algo não estava bem, o que infelizmente era comum em sua jornada, mas ele nunca deixava que isso interferisse em seu jeito alegre de ser, mas nesse dia, a tristeza era visível em sua face O que foi Perguntei.
Nada! Respondeu ele.
E o silencio tomou conta de nós, até ele resmungou alguma coisa – O que você falou Perguntei! Meu filho não dormiu esta noite, chorou a noite inteira.
Ele ta doente Perguntei, e antes que eu falasse qualquer outra coisa, ele disse não, é fome.
E o silencio voltou a reina entre nós – até que eu falei: espera meu pai sair, ele vai para Santa Barbara – Ele já sabia do que eu estava falando, e quando meu pai saiu, peguei alguns pedaços daquela carne que ficava no fumeiro do fogão a lenha um pouco de fubá, farinha, feijão, e por mais incrível que pareça, ele já saiu dali cantando.
Por causa dessa sua alegria contagiante todos diziam: Dingo é um homem de coração bom.
Mal sabia ele que apesar do excesso de cuidados com a asma era justamente o coração que iria lhe deixar na mão.
“Vai meu amigo para o céu para você eu tiro o chapéu e faço uma oração para que os anjos na sua chegada cante canções apaixonadas cante coisas do sertão nessa minha despedida falo com a alma dolorida meu amigo vá em paz fico com o coração ferido porque te gosto demais.
(Marcos Brasil, em Homenagem a Zé Rico)”
Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não deixes que a vida passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de grandes tempestades Mesmo que as pessoas mudem e suas vidas se reorganizem, os amigos devem ser amigos para sempre, mesmo que não tenham nada em comum, somente compartilhar as mesmas recordações.
Pois boas lembranças, são marcantes, e o que é marcante nunca se esquece! Uma grande amizade mesmo com o passar do tempo é cultivada assim!